Alergia é genético? Quais os principais tipos e como descobrir se tenho

As alergias acometem milhões de pessoas ao redor do mundo e podem causar sintomas incômodos, embora na maioria das vezes as reações sejam facilmente controladas com medicamentos ou mudanças nos hábitos de vida.

Embora a predisposição genética possa desempenhar um papel no desenvolvimento de alergias, não é o único fator determinante.

A exposição a substâncias alergênicas e outros fatores ambientais desempenham um papel importante no desenvolvimento das alergias.

Os diferentes tipos de alergias

De acordo com o médico Bruno Spadoni, há dois tipos de categorias que cabem na definição de alergia.

“O primeiro tipo é a anafilaxia, que é uma reação rápida e sistêmica (não é localizada em uma parte do organismo, mas afeta o funcionamento de vários sistemas corporais). É aquele tipo que pode causar danos graves de forma rápida e até ser mortal”, descreve ele, que é professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Felizmente, as reações anafiláticas mortais são raras. Há ainda, segundo o especialista, dois tipos de anafilaxia com ações localizadas, não sistêmicas: a urticária (irritação na pele que causa manchas avermelhadas) e o angioedema (inchaço de áreas de tecido subcutâneo que costuma afetar face e a garganta).

O segundo tipo é a atopia. “Esse nome significa uma predisposição genética para desenvolver sensibilizações que resultam em quadros como dermatite alérgica, rinite alérgica, asma alérgica e alergia a alimentos”, aponta Spadoni.

Confira, abaixo, os tipos mais comuns de alergias.

  • Alergias respiratórias

“Na parte respiratória, os possíveis quadros são rinite alérgica, que é coceira, obstrução nasal, coriza; e também o que a gente conhece como asma, quando os brônquios, tubos que levam o ar até o pulmão, inflamam e causam sintomas como dor no peito, desconforto respiratório, tosse, cansaço, dificuldade durante atividade física, sensação de falta de ar e de fôlego curto”, explica Janáira Ferreira, alergologista pediátrica do Hospital Infantil Albert Sabin (CE).

  • Alergias na pele

Na pele, explica Ferreira, as alergias podem se manifestar como: dermatite atópica, inflamação que costuma ser localizada principalmente nas dobras, deixa a pele bem ressecada e com bastante coceira. “É um quadro bem crônico e recorrente. Também pode acometer outras áreas, como face, tronco e abdome.”

A alergia também pode se manifestar como urticária, uma mancha que parece picada de inseto e pode aumentar gradativamente de tamanho. Esse quadro também tem como característica a coceira, mas a pele não fica ressecada.

Além dessas, há a dermatite de contato, quando o alérgeno entra em contato direto com a pele e o local desenvolve o quadro de inflamação em formato de urtiga, eczema e lesão acneiforme (várias lesões avermelhadas com centro contendo secreção amarelada semelhante a espinha).

  • Alergias alimentares

As alergias alimentares, que têm ação no trato gastrointestinal, causam sintomas como diarreia, vômitos, dor abdominal e assadura perianal.

“É comum que se trate de uma reação imunológica causada pela proteína de alguns alimentos; como, por exemplo, proteína do leite de vaca, ovo, amendoim, peixes e frutos do mar. Os sintomas também podem incluir angioedema (inchaços de pele e mucosas), sintomas respiratórios e a síndrome alérgica oral. Quando afeta a garganta pode, inclusive, levar à anafilaxia”, explica Javier Ricardo Carbajal Lizárraga, imunologista médico consultor em imunologia e alergia de crianças e adultos na rede de hospitais São Camilo (SP).

  • Alergias oculares

A mais comum entre as alergias oculares é a conjuntivite alérgica. Ela causa inflamação da conjuntiva, a membrana transparente que cobre a parte branca do olho e a parte interna das pálpebras como uma resposta do sistema imunológico à presença de alérgenos, como pólen, pelos de animais e ácaros.

“O quadro não é contagioso, causa irritação e vermelhidão nos olhos, além de coceira e lacrimejamento. Comumente acompanha a rinite alérgica”, complementa Lizárraga.

  • Alergias a medicamentos

Todos os medicamentos podem causar reações adversas, mas apenas algumas são de caráter alérgico.
Nesses casos, a resposta imune é muito pessoal. Diversas classes de medicamentos, desde antibióticos até quimioterápicos, podem ser responsáveis por uma reação alérgica –e a maioria das pessoas só descobre após uma primeira crise.

“As consequências da alergia podem incluir urticárias, erupções cutâneas, inchaços, crises de asma e até rinite. Podem levar a dificuldades respiratórias, queda de pressão arterial e choque anafilático”, explica o consultor dos hospitais São Camilo.

O que acontece no corpo em quadros de alergia

Os alérgenos, proteínas encontradas em substâncias como ácaro, pólen e pelo de animais, são as partículas pequenas responsáveis pela reação alérgica, que são “engolidas” por células de defesa.

“Quando o alérgeno entra em contato com nosso organismo, pode gerar uma ativação do sistema imunológico através da imunoglobulina IgE. As reações são muito rápidas para as alergias mais clássicas, e os sintomas já citados são ligados ao alérgeno, que promove a liberação de substâncias dos mastócitos (células inatas, sentinelas do sistema imunológico)”, indica Ferreira, alergologista pediátrica do Hospital Infantil Albert Sabin.

O papel da genética nos quadros de alergia

As alergias têm uma tendência genética, o que significa que algumas pessoas têm maior probabilidade de desenvolver alergias devido a sua herança genética.

“Na experiência clínica, observamos que pais alérgicos têm com frequência filhos também alérgicos”, afirma o imunologista Ricardo Carbajal Lizárraga.

No entanto, isso não significa que a alergia seja totalmente determinada por genes. A interação entre fatores genéticos e ambientais pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento de alergias.

“Provavelmente a alergia envolve um número desconhecido de genes e acaba sendo muito variável de pessoa para pessoa para entendermos atualmente. Os estudos sobre genética atualmente caminham rapidamente e esse conhecimento pode melhorar em um futuro próximo”, indica Spadoni.

Como descobrir se tenho alergia a algo?

O médico Bruno Spadoti explica que ainda não há, entre os exames disponíveis, um que define se temos alergia a alguma coisa ou não na maioria dos casos.

“Os testes de reação da pele e os testes de IgE específica (um exame que dosa a quantidade de anticorpos IgE para certos tipos de alérgenos) mostram se o nosso corpo está sensibilizado a algum tipo de alérgeno. Mas não são todas as pessoas que são sensibilizadas que têm alergia realmente, ou seja, que apresentam a reação quando são expostas ao alérgeno. E também não existe uma forma de predizer se a sensibilização a um alérgeno vai determinar o aparecimento da alergia no futuro.”

Por isso, para diagnosticar um quadro de alergia a alguma coisa, o médico precisa analisar o que a pessoa está apresentando e ver se é compatível com alergia por aquela sensibilização que o exame mostrou.

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