
Cacau, ovo, café e azeite: por que o preço dos alimentos aumentou?
Dentre os produtos que sofreram uma alta nos últimos tempos estão o cacau, matéria-prima para o chocolate, o ovo, o café e o azeite — produtos muito utilizados nas cozinhas brasileiras. Safra ruim, mudanças climáticas e alta do dólar são alguns dos motivos que fazem com que esses produtos tenham preços mais elevados. Entenda o que está por trás de cada alimento.
Cacau
A alta do preço está atrelada à baixa recorde do produto no mercado internacional. Segundo projeções do setor, a defasagem entre demanda e oferta deve se manter pelo menos até 2029 e pode favorecer os produtores brasileiros, mas só depois que a produção se equilibrar e viabilizar o consumo do produto.
O Brasil enfrenta aridez em regiões produtoras. O Nordeste, um dos principais territórios do cacau, tem enfrentado uma crescente aridez —uma secagem lenta, porém implacável, da terra. O cacau é produzido a partir das sementes do cacaueiro, que se desenvolve em climas úmidos. As plantações estão lutando para sobreviver nessas regiões de seca, assim como os agricultores que a cultivam. Essa secura progressiva não é apenas um fenômeno climático. Trata-se de uma transformação de longo prazo que pode ser irreversível.
Houve queda da produção de cacau na África. A Organização Internacional do Cacau reforçou que a queda na oferta global está relacionada à crise agrícola na Costa do Marfim e em Gana, países africanos que representam aproximadamente 54% da produção mundial de cacau. A África Ocidental enfrentou uma safra ruim do alimento devido a condições climáticas adversas e doenças devastadoras em plantações envelhecidas.
Crise climática e pragas são as responsáveis por uma colheita menor. Os efeitos das mudanças climáticas e da doença da vagem negra em plantios reduziu 20% da colheita na Costa do Marfim e 11% da de Gana.
Apesar da colheita baixa, a demanda ainda é alta. A Organização Internacional do Cacau explica que os preços subiram porque a oferta ficou aquém da demanda pelo terceiro ano consecutivo.
Ovo
Preço do ovo é o mais alto em 22 meses. O levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) mostra que o preço da caixa com 30 dúzias saltou 61% no período, de R$ 134 para R$ 227. O calorão, o preço do milho e a proximidade da Quaresma aparecem entre os fatores que contribuíram para a elevação.
Nesses 22 meses, o preço do ovo nunca chegou a patamar tão elevado. A cifra mais alta cobrada pela caixa com 30 dúzias de ovos brancos foi R$ 203 em junho de 2023, 12% menos. Já o ovo vermelho chegou a custar R$ 225, em média, em maio daquele ano, também 12% mais barato.
De acordo com as associações do setor, o forte calor reduz a produção de ovos. “As altas temperaturas registradas no início do ano afetaram a produtividade das aves, impactando diretamente a oferta e os custos de produção”, afirma em nota o IOB (Instituto Ovos Brasil).
As galinhas são animais de sangue quente, com temperatura corporal constante. Quando ficam expostas ao calor, essas aves compensam o estresse térmico usando energia extra para regular a temperatura do corpo. A consequência é a queda de 5% a 10% na produção de ovos, estima Tabatha Lacerda, diretora administrativa do Instituto Ovos Brasil e coordenadora técnica da Associação Brasileira de Proteína Animal. Cada galinha bota, em média, um ovo por dia.
O milho também ficou mais caro e isso impacta na alimentação das galinhas. A alimentação delas é à base de soja, que fornece proteína, e milho, o carboidrato responsável por dar energia às aves. O preço da saca de 60 kg vem aumentando desde setembro do ano passado, quando rompeu a marca de R$ 60 e não parou de subir. Este mês custava R$ 79 — 32% de aumento. “A elevação dos custos tornou inevitável o repasse para o consumidor final, o que onera o produtor”, afirma o IOB.
Café

Valor das sacas de 60 kg atinge patamar recorde. Dados atualizados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) mostram que cada saca dos cafés arábica e robusta negociados por, respectivamente, US$ 462,17 (R$ 2.666,28) e US$ 359,63 (R$ 2.074,71) no começo do mês. Ambas variedades figuram no maior valor da série do instituto.
Inflação do café ocorre em meio a problemas no campo. O cenário climático adverso, marcado por seca, geadas, chuvas e um El Niño rigoroso, prejudicou as últimas lavouras. “Já estamos há praticamente quatro safras no Brasil sem a renovação do recorde de produção”, afirma Renato Garcia Ribeiro, pesquisador do Cepea.
Colheitas do Vietnã também apresentaram problemas. Segundo maior produtor de café do mundo, atrás apenas do Brasil, o país asiático viveu cenário adverso semelhante ao nacional. “Como o consumo global não caiu, houve uma menor oferta e, consequentemente, redução de estoques. Se você tem pouca oferta, os preços sobem”, explica Ribeiro.
Azeite

Oliveiras já não estão mais tão adaptadas ao calor extremo. A árvore identifica o momento da floração pelas alterações de temperatura, e uma primavera mais quente que o normal faz as flores desabrocharem antes do tempo. Como resultado, o fruto —a apreciada azeitona— perde em qualidade e quantidade. Além disso, em caso de seca extrema, a oliveira pode nem produzir frutos naquele ano.
Maiores produtores de azeite enfrentam calores extremos. O maior produtor mundial de azeite é a Espanha, que respondeu em 2022/23 por 28,6% do mercado, seguido por Turquia (13,9%), Grécia (12,8%) e Itália (8,6%), segundo dados do Conselho Oleícola Internacional. As oliveiras das regiões produtoras da Europa sofreram com ondas de calor muito acima do normal nas últimas safras.
Novas pragas e a guerra na Ucrânia também contribuem para alta. A Ucrânia, além de ser um dos principais fornecedores mundiais de óleo de girassol (com o produto inflacionado, outros óleos seguem o mesmo caminho), também lidera em fertilizantes agrícolas.
Alta do dólar também influencia. Brasil importa mais de 99% do que consome, e atual desvalorização do real impacta o preço.