CARROS ENCALHADOS: Por que ações do governo não evitaram fábricas paradas

A venda de veículos no Brasil deve encerrar o mês de junho com mais uma queda significativa. O reflexo disso são os anúncios de paralisações nas produções da Volkswagen e da General Motors, duas das principais marcas do país. A crise no mercado automotivo contrasta com o programa de ‘carro popular’ do governo federal, que já teve quase a totalidade dos R$ 500 milhões de isenções disponíveis já solicitada pelas montadoras.

Na última segunda-feira (26),  as lojas só estavam vendendo carros com descontos que já estavam no estoque das lojas. No caso de um grupo de concessionárias da Volkswagen, o vendedor consultado informou que os carros subsidiados já haviam esgotado desde a sexta-feira (23).

Apesar do incentivo ter dado os frutos que o governo esperava, a engrenagem vai parar de novo. Teve o momento de vendas, mas agora parou. Não tem mais demanda. Isso provavelmente a Volkswagen viu e outras montadoras vão ver também. Não vão gerar estoque porque isso tem custo

Milad Kalume Neto, consultor da Jato Brasil

Fábricas fechadas

A Volkswagen anunciou ontem a paralisação temporária na sua produção em três fábricas no Brasil devido a “estagnação do mercado”.

Mais tradicional fábrica da montadora, a unidade de São Bernardo do Campo terá férias coletivas de 10 dias nos dois turnos da produção, que atualmente fabrica Polo, Nivus, Saveiro e Virtus, a partir de 10 de julho. A outra fábrica paulista, onde são feitos Polo e Polo Track, a interrupção será feita ainda nessa semana.

Unidade no Paraná tem um dos turnos parados desde o início de junho. O restante da produção será interrompido ainda nesta semana. Lá é produzido o SUV T-Cross, um dos mais vendidos do país.

GM também vai parar

Outra marca que vai parar é a General Motors. Os funcionários da unidade de São José dos Campos aprovaram nesta terça-feira (27) a proposta de acordo para implantação de uma nova suspensão temporária de contratos na fábrica a partir do dia 3 de julho.

A fabricante também alegou baixa nas vendas para interromper o segundo turno da fábrica, afetando 1,2 mil trabalhadores de diversos setores. A unidade produz hoje a picape S10 e o SUV Trailblazer, que estão perto de passar por um facelift.

A Stellantis, conglomerado que reúne as marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e Ram, aguardará o fechamento do mês para avaliar as vendas e tratar a estratégia para os próximos meses, podendo engrossar a lista das paralisações.

De quem é a culpa?

Para Milad, da Jato, a baixa nas vendas se explica pelo alto preço dos carros, que dobrou nos últimos cinco anos, e pelos juros altos.

Pelo fato dos preços e dos juros altos, a parcela do financiamento vai ficar maior. Aquela autorização do banco que você tinha para gastar 1.000, agora não tem mais porque a parcela custa R$ 2.000. Os bancos não liberam esse crédito

O consultor também antevê risco de desemprego caso as vendas não voltem a crescer.

“Depois disso vem a segunda fase, redução de custos. Aí vem o risco de desemprego, de manter as fábricas paradas, porque estoques não serão gerados. Porque estoque é custo para as montadoras”, explicou. “Em função de um problema de economia, a gente não está fazendo a roda dentro da indústria automotiva gerar, o que não é positivo.”

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