CARTEIRA VACINAL DE ADULTOS: Saiba quais vacinas tomar e qual a importância de cada uma delas

Antes da pandemia, muitas pessoas costumavam associar a vacinação a algo importante somente para a saúde das crianças —afinal, eram os pequenos que tinham que fazer visitas rotineiras ao posto para receber imunizações.

Mas engana-se quem pensa que a rotina de vacinação faz parte da vida só de bebês ou de crianças. Na verdade, há doses que devem ser reaplicadas durante a vida adulta e em situações específicas, como durante a gestação. Outras ainda são indicadas para determinados públicos, como pessoas com comorbidades e transplantadas, justamente para reduzir o risco de desenvolverem formas graves de doenças infecciosas.

“Os imunizantes são boas ferramentas de promoção de saúde e esses públicos têm calendários específicos para reforçar sua proteção, embora, infelizmente, ainda seja uma informação pouco conhecida no geral”, afirma Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

Segundo ele, a combinação de falta de informação e iniciativas públicas tímidas para estimular a continuidade da imunização ao longo da vida acaba prejudicando a cobertura vacinal do país. “É uma subutilização dessa ferramenta de prevenção que temos e que é tão eficiente”, lamenta.

Nos calendários estão vacinas que previnem desde doenças relativamente simples, como a gripe (causada pelo vírus influenza), até algumas mais sérias que podem evoluir para um câncer, como é o caso da que protege contra o vírus HPV.

E, embora algumas patologias não estejam circulando com tanta intensidade ou os surtos sejam menos frequentes, elas ainda podem dar o ar da graça se encontrarem algum organismo desprotegido. “São doenças que podem ser evitadas. Por que, então, não evitar?”, questiona Kfouri.

Carteirinha em dia: por que é importante?

Logo de cara, é importante avisar: todas as vacinas disponíveis hoje no SUS e na rede particular são eficazes e protegem contra as doenças para as quais foram desenvolvidas. Ou seja, a razão pela qual é importante manter as doses em dia ao longo da vida não tem relação com a eficácia ou não delas, mas sim com a forma como foram desenvolvidas, as doenças que previnem ou até mesmo por característica do nosso sistema imune.

“As vacinas contra vírus, por exemplo, costumam ter uma proteção menor por conta da mutação desses micro-organismos”, afirma a técnica de enfermagem Veruska Ramos Torres, do Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol-UFRN/Ebserh) e coordenadora de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Natal (RN).

Em outras, a resposta imunológica induzida não é suficiente para durar o resto da vida, o que requer reforços constantes para garantir que o corpo esteja sempre a postos em um eventual embate contra o patógeno.

“É o caso da vacina contra difteria e tétano, que deve ser reaplicada ao longo da vida a cada dez anos, em média”, explica Eduardo Jorge da Fonseca Lima, representante da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) em Pernambuco.

Mas, de acordo com ele, as razões para tornar a vacinação um hábito de vida não são apenas essas. Há ainda a questão do envelhecimento natural do corpo, que vai, aos poucos, tornando as nossas defesas mais lentas e suscetíveis a infecções.

Chamada de imunossenescência, essa queda natural das células do sistema imune começa a se acelerar após a puberdade, por volta dos 20 anos, e vai progressivamente seguir assim até a velhice.

Não é à toa, por exemplo, que é justamente o público acima de 60 anos um dos grupos que tem um calendário próprio de vacinas, para reduzir o risco de infecções que podem gerar complicações graves após essa idade, como pneumonias e herpes-zóster.

Por fim, vale lembrar que algumas pessoas desconhecem o próprio histórico de vacinas e podem estar vulneráveis aos patógenos — e ainda colocar em risco outras pessoas ao servir de vetor de circulação para eles. “A baixa cobertura vacinal aumenta o risco de vermos o retorno de doenças infecciosas que já estavam controladas”, afirma Paulo Sérgio Ramos, médico infectologista e chefe do DIP (Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias) do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). De acordo com ele, atualmente, já existe uma sinalização de que podem ocorrer novos surtos de sarampo e, num cenário ainda mais grave, da poliomelite, no Brasil.

Doenças associadas

Além do calendário adulto e idoso, indivíduos com doenças associadas, como diabetes e hipertensão, devem estar atentos ao calendário de vacinação e pedir orientação médica sobre quais imunizantes devem ser aplicados.

Isso porque essas doenças, na maioria consideradas crônicas, estão associadas a um aumento no risco de desenvolver complicações e de mortalidade uma vez que o indivíduo desenvolva a infecção.

É o caso, por exemplo, dos pacientes com asma e que convivem com DPOC (Doença pulmonar obstrutiva crônica), que têm a recomendação de se vacinar contra doenças respiratórias como gripe e coqueluche.

“Esses pacientes têm uma resistência menor e, no caso da DPOC, cada crise provocada por uma infecção respiratória compromete a capacidade dos pulmões, que não volta aos 100% mesmo após a recuperação”, afirma Elie Fiss, professor de pneumologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e médico do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.

Por isso, o especialista diz que indica a vacinação para todos os indivíduos. “O calendário precisa estar atualizado para que a saúde global desse paciente esteja mais protegida”, avalia.

Como saber qual vacina tomar?

Dentro do PNI (Programa Nacional de Imunização) do Ministério da Saúde, existem vacinas que são indicadas para adultos, idosos, gestantes e públicos específicos, como portadores de HIV e imunossuprimidos, entre outros públicos específicos.

No caso dos adultos saudáveis, a recomendação do ministério da Saúde é que os indivíduos recebam as seguintes vacinas:

  • Hepatite B
  • Dupla bacteriana adulto (dT, contra difteria e tétano)
  • Febre amarela
  • Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
  • Influenza (gripe) e pneumocócicas (pneumonia bacteriana).

Já a SBIm recomenda, além dessas, a aplicação da hepatite A, as meningocócicas ACWY/C (contra meningites bacterianas) e a dose contra herpes-zóster; no caso da dupla bacteriana, a recomendação é trocar para a tríplice bacteriana do tipo adulto acelular (a dTPa, que previne difteria, tétano e coqueluche).

A maioria das vacinas está disponível no SUS, com exceção das meningocócicas [indicada em dose única e para condições de risco] e da herpes-zóster [recomendada em uma dose após os 60 anos].

Mas qualquer adulto pode procurar um posto de saúde com a carteirinha de vacinação (se possuir) e checar se existe alguma vacina não aplicada ou dose em atraso. “Mesmo quem eventualmente não tomou quando criança pode se imunizar agora, na vida adulta”, afirma Veruska Ramos Torres.

Segundo ela, as coberturas mais baixas em adultos atualmente são a da hepatite B e da febre amarela —esta última foi incluída há pouco tempo no calendário infantil e, por isso, ainda associada com a necessidade de tomar apenas para viagens a locais onde a doença é endêmica, o que não é mais o caso.

“São vacinas de qualidade, eficazes e gratuitas, importantes para evitar doenças que, mesmo sem grandes complicações na maioria dos adultos saudáveis, podem ser evitadas. Ninguém precisa ficar doente”, afirma a coordenadora.

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