Fundo de Desenvolvimento Agrícola da ONU abre diálogo com governo brasileiro para formular novo ciclo de projetos focados na segurança alimentar

O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) das Nações Unidas (ONU) está iniciando as discussões técnicas para formular o planejamento estratégico do seu próximo ciclo de projetos e quer contar com a contribuição do governo brasileiro para definir novas ações no Brasil. O convite foi feito pelo presidente da instituição, Álvaro Lario, durante reuniões com representantes do governo federal e dos governos estaduais, durante visita de cinco dias ao Brasil encerrada nesta quinta-feira.

Em Brasília, etapa final da visita, Lario teve reuniões com os ministros Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima); com a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva; e os secretários-executivos do Itamaraty, Maria Laura da Rocha, e do Ministério da Fazenda, Dario Durigan. Também participou de uma reunião com o Consórcio Nordeste e o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante. Antes de Brasília, visitou projetos apoiados pelo FIDA na Paraíba.

A parceria entre o governo do Brasil e o FIDA, segundo Lario, visa alcançar resultados inéditos nos próximos anos e transformar a vida daqueles que vivem no meio rural. “O Fundo está pronto para continuar seus esforços em parcerias com o Brasil, a fim de trazer recursos e soluções adequadas de apoio às comunidades rurais, instituições, redes alimentares e de proteção ambiental”, afirma. Segundo ele, o Brasil mais uma vez coloca a luta contra a pobreza e a fome no topo da agenda política.

“O FIDA iniciará uma série de consultas com o  governo brasileiro para definir sua estratégia país”, informou Lario. Segundo ele, a formulação do planejamento  estratégico terá início em setembro, por meio de visitas de campo e do diálogo com diversos entes. “A parceria com o Brasil é fundamental, com foco em avançarmos da agricultura de subsistência para uma agricultura produtiva, que leve uma vida digna ao produtor”, acrescentou. Ele destacou a importância do lançamento do projeto Semeando Resiliência Climática em Comunidades Rurais do Nordeste, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – o edital contemplará projetos de quatro Estados da região.

Lario enfatizou que o objetivo do Fundo é, por intermédio dos projetos que realiza e apoia, construir escala e transformar o processo econômico no campo, favorecendo a agricultura familiar e as comunidades mais pobres. Segundo ele, iniciativas para garantir assistência técnica ao pequeno produtor continuarão merecendo prioridade nos projetos futuros.

Wellington Dias – “Nos últimos 20 anos, o Brasil construiu muitos avanços na busca por segurança alimentar e o FIDA teve um papel fundamental nesse resultado”, disse Dias durante a reunião com Lario na quarta-feira (19/7). “Agradeço o privilégio da sua visita, somos muito gratos por essa parceria não apenas pela questão financeira, mas também, por toda a experiência que temos trocado”. Acompanhado por secretários e assessores, o ministro apresentou um panorama das ações realizadas e das iniciativas tomadas para a recomposição de projetos e mecanismos de ação governamental, sinalizando a expectativa de aprofundar a parceria com o FIDA.

Wellington Dias mencionou, durante a reunião com Lario, o restabelecimento dos sistemas que ancoram as ações focadas na segurança alimentar, com a atualização de cadastros e cruzamento de dados para melhorar o atendimento da população de baixa renda. “O Brasil viveu um momento muito delicado, a pandemia foi muito grave, mas aqui foi além”, disse o ministro, pontuando o que qualificou como “desmantelamento” de políticas e ferramentas de ação social do governo. O objetivo agora, apontou, é atuar no combate à pobreza e à pobreza extrema, impactando inclusive famílias hoje associadas à chamada pobreza crônica.

O ministro apontou que a agenda do Ministério está alinhada aos paradigmas dos projetos realizados e apoiados pelo FIDA e que deseja trabalhar integrado com as Nações Unidas para garantir mais condições para prover segurança alimentar e combater a desigualdade no Brasil. “Eu peço a atenção e parceria do Fundo para uma política de inclusão socioeconômica, para tirar as pessoas da pobreza com uma política de segurança alimentar”, afirmou Wellington Dias. “O FIDA será um parceiro para trazer o combate à fome como prioridade, com um olhar especial para a extrema pobreza”.

Dias sinalizou, ainda, a questão ambiental como pauta estratégica para as parcerias com o FIDA. O ministro apresentou as linhas gerais de um programa destinado a estimular o cuidado com as florestas brasileiras, por intermédio da remuneração do plantio de árvores em áreas degradadas. O projeto Brasil Verde, informou, está sendo executado como um piloto e pode ser estendido, contemplando inclusive o plantio de árvores frutíferas. “Pode parecer romântico, mas não é”, comentou. Segundo ele, o piloto em curso prevê o plantio de 45 milhões de árvores no Nordeste, das quais 5 milhões no Piauí.

O presidente do FIDA fez um agradecimento especial ao ministro, com quem a instituição tem se relacionado há diversos anos, desde que Dias governou o Estado do Piauí, onde o Fundo atua.

Governança ampliada – Ainda na quarta-feira, Lario se reuniu com o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, quando externou sua satisfação com os resultados dos projetos realizados pelo Fundo no Brasil. “Estamos contentes com os resultados e queremos mostrá-los ao mundo na COP 28”, afirmou Lario. A COP 28 será realizada na cidade de Dubai a partir de 30 de novembro próximo. Na ocasião, o presidente do FIDA celebrou a aprovação da terceira etapa do projeto Dom Helder Câmara, focado na redução da pobreza rural e das desigualdades no semiárido brasileiro. A iniciativa receberá aporte de U$ 35 milhões pelo Fundo, com contrapartida de U$ 100 milhões do governo federal, com execução coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.

Acompanhado por sua equipe, o presidente do Fundo reafirmou as premissas que ancoram os projetos realizados e apoiados pelo FIDA, com foco na democratização da assistência técnica para a agricultura familiar e na ampliação do fomento, assim como iniciativas destinadas ao combate à pobreza e à insegurança alimentar. Álvaro Lario comentou, ainda, que o FIDA lidera uma aliança de 110 bancos de desenvolvimento espalhados pelo mundo, com o objetivo de ampliar o financiamento e escalar o impacto positivo de seus projetos. “Nosso objetivo é fazer os recursos chegarem às populações mais vulneráveis, e nossas parcerias viabilizam projetos”, comentou.

Ladeado por secretários e outros integrantes da equipe, o ministro Paulo Teixeira agradeceu a visita e celebrou a parceria do governo brasileiro com o Fundo. “O FIDA é muito bem-vindo e muito bem visto no Brasil, simbolizando a promoção  de boas práticas e ações de impacto voltadas ao semiárido brasileiro”, afirmou. Segundo ele, o relacionamento do Fundo com os Estados do Nordeste é de extrema relevância para os objetivos de combate à pobreza no país.

O ministro destacou que a agricultura familiar brasileira é muito “pujante”. Hoje liderada por mulheres e jovens, e com comercialização mais sofisticada. “O FIDA se associou ao que há de melhor no Brasil”, comentou Teixeira. Ao receber a delegação, o executivo convidou a instituição a ampliar o diálogo com a Pasta, com vistas a avaliar as iniciativas, aferir seus acertos, desafios e necessidade de melhorias.

Segundo ele, o Ministério tem interesse em participar dos projetos a serem selecionados no edital do projeto Semeando Resiliência Climática em Comunidades Rurais do Nordeste e propôs uma governança ampliada para que haja maior cooperação. Paulo Teixeira também defendeu que a pauta climática seja reforçada durante a terceira fase do projeto Dom Helder Câmara, com vistas a chamar atenção para o bioma da caatinga, que ainda não recebe a prioridade necessária. Segundo o ministro, esta será uma oportunidade de replicar o aprendizado gerado pela iniciativa.

 

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