SEM VISTO, MAS MUITO VISTO: Bolsonaro permanece ‘ilegal’ nos EUA enquanto faz palestras e dá entrevistas

Desde o fim de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue nos Estados Unidos, onde tem feito aparições públicas, dando declarações, participando de palestras e dando entrevistas para veículos da extrema-direita no país.

O curioso é que Bolsonaro está sem um visto que o permita permanecer em solo norte-americano. Isso porque o visto diplomático, concedido para chefes de Estados, terminou com o fim do mandato de presidente. O ex-presidente optou, então, por solicitar o visto de turista, que dá direito a permanência de seis meses nos EUA. Até que o processo seja concluído, no entanto, Bolsonaro pode permanecer no país, conforme explicou seu advogado.

“Ele dedicou 34 anos de sua vida ao serviço público e gostaria de tirar uma folga, clarear a cabeça e aproveitar como turista nos Estados Unidos por alguns meses antes de decidir qual será seu próximo passo”, afirmou Felipe Alexandre no dia 30 de janeiro à BBC. 

O pedido para mudança do status do visto – de diplomático para turista – foi recebido por autoridades de imigração no dia 27 de janeiro.

Eventos da extrema-direita

Enquanto segue nos EUA, Bolsonaro tem chamado atenção de veículos internacionais. A revista Times, por exemplo, classificou as aparições do ex-presidente brasileiro como “surreais”. Segundo a publicação, é comum observar Bolsonaro realizando atividades triviais do dia a dia, como ir ao supermercado, comer em um fast-food, compartilhar a rotina nas redes sociais e cortejar seus apoiadores na entrada do condomínio fechado em Orlando, na Flórida, propriedade do ex-lutador de MMA, José Aldo, onde está hospedado.

Além disso, Bolsonaro tem participado de eventos da extrema-direita norte-americana e de apoiadores do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Em solo norte-americano, o ex-chefe de Estado brasileiro tem dado declarações polêmicas, como defender alguns golpistas. “Muita gente sendo injustiçada lá”, afirmou em palestra no dia 1º de fevereiro. “Aquilo não é terrorismo pela nossa legislação. Tem gente que tem que, sim, ser individualizada [por] invasão, depredação, e cada um que pague por aquilo que fez”.

Outro evento com presença de Bolsonaro foi promovido por uma organização norte-americana associada ao ataque ocorrido no Capitólio: a Turning Point USA, fundada por Charlie Kirk, apontado nos EUA como parte da engrenagem que ajudou a financiar o comício de Trump que precedeu a invasão do Congresso dos Estados Unidos.

Na última sexta-feira, 3, Bolsonaro chegou a participar de um podcast de Charlie Kirk, e lhe concedeu uma entrevista afirmando que pretende retornar ao Brasil e fazer oposição a Lula. “Tenho que continuar na política. É aquilo [a atividade] na qual me descobri, um pouco tarde, talvez. Mas por ausência de lideranças de direita no Brasil, me vejo na obrigação de coordenar essas novas lideranças que têm surgido para que o Brasil não mergulhe de vez no socialismo ou no comunismo”, afirmou, mesmo sem apresentar provas de que há planos para implementar esses regimes no Brasil.

Possível fuga 

Segundo o colunista do TerraDaniel Haidar, três ações em cadeia do ex-presidente Jair Bolsonaro são citadas hoje por diplomatas como indícios de que ele premeditou uma fuga para os Estados Unidos, antes até de perder a eleição presidencial.

Fontes do Ministério das Relações Exteriores citaram à coluna que atualmente a criação do vice-consulado de Orlando, na Flórida, pode ser vista como uma ação planejada por Bolsonaro com motivações particulares.

Já se sabe hoje que Bolsonaro preparou com antecedência sua estadia na Flórida, antes de ficar na casa do lutador José Aldo, em Kissimee, localizada a cerca de 30 minutos do consulado de Orlando. É também amplamente noticiado o medo que Bolsonaro tem de ser preso após deixar a presidência.  Ou, ainda, o medo de que seja preso algum filho dele.

Mostrar mais
Botão Voltar ao topo