Adolescente marroquino usa garrafas de plástico para boiar e cruzar fronteira até Espanha

Um adolescente marroquino chegou à costa de Ceuta com garrafas de plástico amarradas ao corpo depois de atravessar, a nado, a fronteira do Marrocos com a Espanha. O rapaz chegou exausto e desesperado à praia. Logo ele é escoltado por militares espanhóis.

Os soldados falam com o menino, que chora desesperadamente ao perceber que tudo foi em vão, pois ele será imediatamente devolvido ao Marrocos. Depois de tirar as “boias artesanais”, ele corre, quase sem forças, para a praia de El Tarajal, em Ceuta, para tentar escalar um paredão de rocha. Os militares se aproximam do jovem para tentar tranquilizá-lo e o levam de volta à fronteira.

Ceuta é uma cidade autônoma administrada pela Espanha, mas fica no continente africano, na entrada do Estreito de Gibraltar, no Mar Mediterrâneo. Há barreiras na fronteira com Marrocos, construídas pela Espanha, para evitar a entrada de imigrantes vindos da África.

A polícia recolheu hoje o corpo de uma pessoa que estava boiando nas águas de Ceuta. Esta seria a segunda morte desde que começou a chegada em massa dos migrantes nesta semana.

Desde segunda-feira, 8.000 migrantes entraram em Ceuta, graças ao relaxamento do controle do lado marroquino, em meio a uma disputa diplomática entre Rabat e Madri pela assistência médica prestada pela Espanha ao líder separatista do Saara Ocidental — território que Marrocos considera como seu.

Dois terços das pessoas foram mandados de volta para o Marrocos, segundo as autoridades espanholas, incluindo crianças desacompanhadas de até sete anos de idade. A maioria dos deportados afirma às autoridades que vai tentar voltar. Nesta quarta-feira à tarde, alguns tentaram de novo.

As autoridades espanholas elevaram ainda mais o tom, denunciando uma “agressão” e uma “chantagem” por parte de Rabat, embora no terreno, as relações parecem estar se reconstruindo timidamente para acelerar o retorno dos migrantes.

Mas esse retorno não extingue as esperanças de muitos. “Um dia tentarei a sorte novamente e terei sucesso”, estimou Hassan, de 17 anos, que “sonha em morar na Europa”.

Confrontos no lado marroquino

Descalços, ou de chinelos, com a roupa suja, ou puída, milhares de pessoas, a maioria jovens, tentaram entrar em Ceuta. Junto com Melilla, este pequeno enclave de 84.000 habitantes constitui a única fronteira terrestre entre a União Europeia e a África.

Em Castillejos, mil jovens marroquinos atiraram pedras nas forças da ordem locais. Na sequência, atearam fogo a uma motocicleta. Já em Melilla, cerca de 100 migrantes tentaram, sem sucesso, pular a cerca da fronteira, informaram as autoridades locais, na terceira tentativa semelhante desde terça-feira.

A Espanha, que recebeu apoio das altas autoridades europeias, aumentou a pressão sobre Rabat, um parceiro-chave no controle do fluxo migratório.

“Não é apenas uma agressão às fronteiras espanholas, mas às fronteiras da União Europeia”, denunciou a ministra espanhola da Defesa, Margarita Robles, que acusou o Marrocos de “pôr a vida de menores em risco”, deixando-lhes o caminho livre para nadarem até Ceuta.

“Jogo duplo”

O governo de Rabat, que manteve dias de silêncio sobre este assunto, relacionou diretamente a crise migratória com a hospitalização na Espanha de Brahim Ghali, o líder do movimento de independência saarauí Frente Polisário, apoiado pela Argélia.

“O Marrocos não aceita a linguagem dupla e o jogo duplo de Madri”, disse o chanceler marroquino, Nasser Bourita, à agência oficial MAP.

“A verdadeira origem da crise é a recepção por Madri sob uma falsa identidade do chefe separatista das milícias de Polisario”, acrescentou.

A Espanha insiste em que a decisão de receber Ghali é por razões “humanitárias”. Reiterou ainda que não mudou sua posição em relação ao Saara Ocidental, uma ex-colônia espanhola, e que manterá sua neutralidade e respeitará as resoluções das Nações Unidas.

A Anistia Internacional condenou que os migrantes estejam “sendo usados como peões” neste “jogo político” entre Madri e Rabat. Segundo esta ONG, cerca de 2.000 menores desacompanhados teriam entrado em Ceuta.

A delegação do governo espanhol disse hoje que 800 dos 1.500 menores que entraram permanecem em Ceuta, visto que “muitos regressaram voluntariamente”.

Ceuta disponibiliza telefone às famílias

Nesta quinta-feira, Ceuta disponibilizou um número de telefone para famílias marroquinas que procuram os seus filhos, que podem ser encontrados na cidade depois de terem entrado ilegalmente na segunda e terça-feira.

O serviço tem o objetivo de agilizar os procedimentos para que, logo após serem registrados, seja possível dar início ao processo de acolhimento temporário. A medida foi lançada pelo governo depois que várias famílias denunciaram nas redes sociais a marcha dos seus filhos à Ceuta sem o consentimento dos pais. Essas famílias alegaram que os seus filhos chegaram a Ceuta iludidos a assistir a um jogo de futebol ou a uma excursão e que atualmente não sabem onde se encontram.

Mostrar mais
Botão Voltar ao topo