Itália vende casas por 1 euro e brasileira compra três: ‘Renovando as cidades’

Rubia Andrade Daniels estava de férias na Indonésia quando soube que havia casas sendo vendidas por apenas um euro na Itália. Em um primeiro momento ela achou que se tratava de uma brincadeira, algo “bom demais para ser verdade”, até que fez sua própria pesquisa e viu que de fato existiam tais anúncios. Ela não esperou para garantir suas compras.

“Queria ver para crer. Em três dias eu já tinha comprado a minha passagem, marcado o hotel, reservado um carro. Aí eu fui para a Itália pra tentar pegar mais informação, saber se aquilo ali era realmente real. Foi assim que tudo começou”, diz Rubia em entrevista.

A venda de casas por um euro em cidadezinhas italianas existe pelo menos desde 2014, mas foram os anos seguintes que suas vendas aumentaram cada vez mais com a adesão de localidades em regiões famosas como a Toscana, a Sicília, a Sardenha, a Puglia, o Piemonte e Lombardia.

As iniciativas vieram como forma de combater a saída dos mais jovens para os grandes centros, dar fim ao abandono de imóveis e manter a existência de vilarejos com grande população idosa, repovoando essas localidades. Cada lugar tem regras específicas.

Em janeiro de 2019 Rubia embarcou para a Sicília, numa cidade de 10 mil habitantes chamada Mussomeli. Até então, segundo ela, não havia tanta procura pelas casas a preço de um cafezinho. Todo processo foi feito por uma agência imobiliária autorizada pela prefeitura local.

Rubia em frente a uma das casas recém adquiridas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Rubia em frente a uma das casas recém adquiridas

Imagem: Arquivo pessoal

Uma das casas escolhidas, no centro histórico de Mussomeli - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Uma das casas escolhidas, no centro histórico de Mussomeli

Imagem: Arquivo pessoal

“Eu fui uma das pioneiras. Quando eu cheguei lá em 2019, por exemplo, no dia que eu fiz o tour, era só eu e havia umas 100 a 150 casas disponíveis”, conta, e completa:

Hoje, se você marcar um tour, vai estar no mínimo com 30 pessoas, porque tem gente do mundo inteiro indo para lá e comprando essas casas”

Apesar de ter ido para outras cidades ainda menores que Mussomeli, ela escolheu o lugar devido a sua estrutura com hospital, restaurantes, bares, panificadoras, posto de gasolina e boutiques: “Eu não preciso sair da cidade para nada”.

A compra

Com tantas opções disponíveis de moradia, a empreendedora brasileira se encantou por três imóveis dispostos no centro histórico de Mussomeli — um quarto seria adquirido pela sua filha.

Por se tratar de edifícios antigos, muitos ainda com o estilo medieval no interior, um dos requisitos para a compra foi preservar o aspecto histórico do prédio quando é necessário fazer reformas.

Uma das obrigações de quem compra as casas de um euro é manter o aspecto arquitetônico das construções históricas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Uma das obrigações de quem compra as casas de um euro é manter o aspecto arquitetônico das construções históricas

 

Todo comprador tem até três anos para iniciar os trabalhos e garantir a propriedade com a aquisição da escritura, que pode variar entre 3 mil e 3,5 mil euros, além da taxa de prestação de serviço da agência imobiliária, que Rubia pagou 500 euros. O valor de um euro por casa, hoje cotado por pouco mais de R$ 5,00, é praticamente simbólico.

1 - Reprodução/ Arquivo pessoal - Reprodução/ Arquivo pessoal
A primeira casa pertence à filha de Rubia e fica ao lado de uma das três que a mãe comprou

 

Investimento nas reformas

Moradora da Califórnia, na Costa Oeste dos EUA, Rubia iniciou a reforma da primeira casa ainda em 2019.

1 - Reprodução/ Arquivo pessoal - Reprodução/ Arquivo pessoal
A própria Rubia levou materiais e ferramentas de construção da sua casa nos EUA para reformar as casas italianas

 

Ela trabalha com energia renovável — suas casas levam projetos sustentáveis na execução — e carregou suas próprias ferramentas em cinco malas para iniciar a restauração dos imóveis junto com o marido e um cunhado, que estava no Brasil: “Fomos no verão de 2019 já pra pegar a escritura e começar com a reforma”.

Com a chegada da pandemia em março de 2020, as obras tiveram que ser paralisadas, já que havia restrições de viagens no mundo todo. Somente no final do ano passado houve a retomada das obras, seguindo o prazo estabelecido — e estendido devido ao período pandêmico.

1 - Reprodução/ Arquivo pessoal - Reprodução/ Arquivo pessoal
As casas históricas têm características medievais; esta é uma das chaves das casas compradas pela brasileira

 

Cada um dos imóveis terá uma finalidade: o primeiro, que precisou de poucos reparos, será a casa de férias; o segundo está com obras em andamento e Rubia pretende abrir uma galeria de arte; o terceiro ainda não teve muitos trabalhos e deve ser um centro de bem-estar.

Há ainda um quarto imóvel que quase não precisou de reparos. Ele pertence a filha de Rubia e faz vizinhança à uma das casas da mãe. Rubia que ficou responsável por reformá-lo, e sua mobília foi preservada. Foi nele que a família passou junta o Natal de 2022.

Cada casa comprada por Rubia foi encontrada em uma situação diferente - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Cada casa comprada por Rubia foi encontrada em uma situação diferente

 

Gastos para reforma

Como cada imóvel estava com condições diferentes, Rubia conta que o investimento na reforma é variável: “Varia, porque o que determina a reforma é o tamanho e a condição que está o prédio. Então se você pegar uma casa como a que a gente fica hoje, eu devo ter gastado uns 2 mil euros, porque é uma casa com mínima reforma”.

“Na casa que eu estou trabalhando até agora e vai ser a galeria de arte, eu acho que é seguro dizer que vai gastar entre 20 mil e 25 mil euros para reformá-la inteira”, afirma. O valor equivale a cerca de R$ 105 mil e R$ 130 mil na conversão para o real. E, apesar de a casa ser comprada por apenas um euro, esse é um investimento para reformas que ainda assim vale a pena.

Uma grande comunidade

Natural de Goiânia, Rubia sentiu que Mussomeli se mostrou um lugar acolhedor, seja com os moradores da cidade que ela tem contato por precisar comprar material de construção ou itens básicos, seja com as novas amizades: “O pessoal é super gente boa”.

Ela conta que já ajudou a vender mais de 100 casas naquele vilarejo desde que fez a compra das casas por R$ 16, e oferece assistência a quem a procura.

Tenho vários amigos que também compraram. Então, eu sou bem ativa em ajudar o pessoal que tem o mesmo sonho”

“É estar criando uma nova comunidade para poder escolher quem você quer que sejam os seus vizinhos. Tem gente do mundo inteiro indo para lá e comprando essas casas”, diz.

Britânicos, belgas, franceses, coreanos, chineses, russos, gente da Argentina e Nigéria são algumas das nacionalidades que vão compor essa nova vizinhança que manterá viva a existência de Mussomeli:

Você aprende outras culturas, você aprende outros hábitos. É quase que uma coisa utópica”

Aos 50 anos recém-completados, Rubia vai voltar para Mussomeli em setembro para conferir as obras. Ela já planeja o futuro e incentiva aqueles que também querem fazer o mesmo que ela fez:

“Meus planos são de me aposentar. Se você quer fazer isso, eu acho que é uma oportunidade excelente. E o investimento é mínimo. Na pior das hipóteses, você terá uma casa de férias na Europa”, finaliza.

1 - Reprodução/ Arquivo pessoal - Reprodução/ Arquivo pessoal
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