MADE IN NORDESTE? Lançamento da Prada gera debate sobre apropriação cultural

Seguindo a linha de seu verão 2020, o PreFall da grife italiana Prada é recheado de sandálias e bolsas de couro trançadas. Mas, uma das peças da coleção de meia-estação, que antecede a de outono/inverno, chamou bastante atenção no Instagram, sobretudo dos usuários brasileiros.

Enquanto a grife apresentou o lançamento como rasteira de couro trançada, muita gente notou a semelhança do modelo de luxo com as sandálias artesanais de couro vendidas no Nordeste do Brasil. Uma delas foi a atriz e apresentadora Regina Casé, que apontou nos comentários: “Da feira de Caruaru!!! Brasil!”

De couro de bezerro, com ferragem dourada, fechamento por fivela, bico arredondado e solado flat de borracha, a sandália da Prada está à venda no Brasil por meio da Farfetch, por R$ 4.400 (em até 12 parcelas).

No Twitter, a sandália de luxo foi comparada ao modelo “made in Brazil” principalmente das feiras de Pernambuco, e, claro, a diferença do preço entre as duas foi bem questionada:

Além dos brasileiros, outros usuários do Insta estão apontando semelhança do modelo Prada com produtos regionais confeccionados artesanalmente: “No Marrocos, nós temos a mesma sandália” ou “Se parecem com as do México. Podem ser compradas de fabricantes mais originais e muito mais baratas”, são alguns dos comentários da publicação.

Prada não se pronunciou

Até agora, a Prada não se pronunciou sobre as críticas que o lançamento recebeu nas redes. A apropriação cultural, que gera lucro ao adotar e comercializar um item que possui um contexto regional e cultural, sem dar crédito ou beneficiar e valorizar seus artesãos e criadores, está sendo cada vez mais questionada no mundo da moda.

Em 2017, a coleção de PreFall da Dior apresentou um colete cheio de bordados que, parece ter sido inspirado nas vestimentas tradicionais feitas na região de Bihor, na Romênia. O modelo da grife francesa custava 30 mil euros (aproximadamente R$ 185 mil) e não trazia nenhuma citação ou referência às artesãs do leste europeu, que podem demorar mais de um mês para produzir suas peças feitas à mão.

A solução encontrada por uma revista de moda romena para dar visibilidade à cultura do vilarejo local foi criar uma marca, a Bihor Couture, e lançar uma campanha publicitária estrelada pelas artesãs sob a hashtag #BihorNotDior, que viram as vendas online das peças dispararem.

Já o governo do México acusou a grife Carolina Herrera de apropriação cultural pelo uso de desenhos e elementos identitários de povos mexicanos nativos em suas criações da coleção Resort 2020.

“Que crédito se dá aos artesãos que fazem esse tipo de bordado hoje em dia? Houve alguma reciprocidade ou só pegaram suas ideias, cores e padrões como ‘inspiração?'”, questionou a jornalista mexicana Mariana Limón nas redes.

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