Ex-PM larga farda para vender capinha de celular e inicia expansão por franquias

Nascido e criado em Campo Erê, uma pequena cidade catarinense de apenas oito mil habitantes, o empreendedor Francis Ferlin foi educado desde cedo a se preparar para um concurso público. Mesmo tendo o destino traçado pelos pais, ele não se conformava e, vez ou outra, se pegava criando coisas na cidade, como um jornal local ou eventos. Hoje, ele é dono da rede de franquias de acessórios para smartphoneItCase, que faturou R$ 2 milhões em 2020.

Ferlin foi cursar a faculdade de Direito em Chapecó, também em Santa Catarina, e depois prestou um concurso para a polícia militar do estado, para conquistar sua independência financeira. “Fiquei dez anos na PM, mas nunca perdi a esperança de ter um negócio próprio”, comenta. Nesse meio tempo, Ferlin conheceu a veterinária Monique Morselli e se casou.

Por volta de 2015, ele soube que uma pequena loja de artigos para smartphones em um supermercado da região estava à venda. Francis conta que tinha R$ 50 mil, que estavam destinados para quitar o apartamento do casal, mas diante da possibilidade de ter um negócio próprio, por mais simples que fosse, não pensou duas vezes: deu o valor de entrada e parcelou o restante.

Francis chegou em casa e contou para a esposa. Depois do choque inicial, ela embarcou com ele na ideia e os dois passaram a conciliar os próprios trabalhos com a administração do negócio. Foi preciso contratar duas funcionárias para ajudar no atendimento durante o dia. “Éramos amadores naquilo, ela era médica e eu PM. Fazíamos toda a contabilidade em um caderninho e fomos tentando dar o nosso jeito.”

Aos poucos, o casal foi melhorando a loja para que perdesse o ar de “informalidade” que tinha. Trouxeram novos produtos, aperfeiçoaram o atendimento e o faturamento começou a subir. Tanto que os animou a abrir uma segunda unidade, a poucas quadras dali, três meses após a aquisição da primeira.

Em 2018, abriram a terceira unidade. Foi nessa época que eles se mudaram para um condomínio e conheceram Christian Bernardes e o Felipe Sperandio, que viriam a se tornar sócios da ItCase. “Quando abrimos a terceira loja, percebemos que precisaríamos nos organizar se quiséssemos crescer mais. Foi quando eu saí da PM e a Monique deixou a clínica e nós focamos no negócio.”

Com isso, eles decidiram profissionalizar as lojas para criarem o próprio diferencial, em um mercado já bem difundido. Isso incluiu o redesenho das unidades, investimento em marcas exclusivas de acessórios e até a contratação de designers para a produção de estampas personalizadas para a ItCase.

Em 2019, Bernardes entrou para a sociedade. Ao longo de 2020, a rede passou de três para nove pontos, todos próprios, em Chapecó e em Passo Fundo (RS). “Abrimos uma loja por mês entre maio e novembro. Antes da pandemia já tínhamos preparado o caixa para essa expansão, e encontramos boas oportunidades de pontos, pois muitas lojas acabaram fechando”, diz Ferlin. O empreendedor calcula que o investimento feito para a expansão da marca nesse período tenha sido de R$ 500 mil.

Além de ter um caixa preparado para a expansão, a ItCase acabou se beneficiando de um novo comportamento de consumo imposto pela pandemia: os produtos carro-chefe continuam sendo as capinhas e películas para smartphone, mas itens próprios para vídeos e reuniões, como ring lights e tripés chegaram a triplicar a participação no faturamento, passando de 3% a 5% em 2019 para 15% em 2020.

Dentro do setor de franquias, o segmento de Comunicação, Informática e Eletrônicos, ao qual a ItCase pertence, foi um dos poucos a registrar resultados positivos em 2020, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF). De acordo com um levantamento feito pela entidade, o nicho conseguiu marcar um crescimento de 9% em julho, período de reabertura gradual do varejo.

Conforme a rede ganhava corpo, Ferlin passava a receber propostas de interessados de outros estados em ter uma franquia. Eles decidiram contratar uma consultoria especializada para formatar o modelo para iniciar a expansão. O projeto final ficou pronto em janeiro.

O investimento inicial para ter uma loja da marca, que pode ser instalada em pontos de rua ou shopping centers, é entre R$ 120 mil e R$ 150 mil, a depender do espaço. Há também o modelo de quiosque, que demanda um aporte inicial de R$ 99 mil.

Neste ano, eles ganharam mais um sócio: a aceleradora de franquias 300 Franchising, criada pelos empreendedores Leandro e Leonardo Castelo, fundadores da Ecoville. Agora, a expectativa é chegar ao final de 2021 com 100 contratos fechados e, pelo menos, 70 lojas abertas, em todo o país. “Para este ano, acreditamos que uns 60% a 70% das novas unidades abertas sejam lojas completas. O restante deve ser de quiosques”, adianta Ferlin.

Mostrar mais
Botão Voltar ao topo