Falso médico diz que morte cerebral de policial é reversível e acaba preso

Um homem foi preso ontem, em Salvador, sob suspeita de se passar por um cirurgião e dar informações inverídicas de possibilidades de recuperação a familiares do policial civil Yago da França Souza Avelar, 39. O agente teve morte cerebral confirmada no sábado (6), um dia após a viatura em que estava capotar na BA-233, na região da Chapada Diamantina. Outros dois colegas dele morreram no local.

O homem se apresentou como Fábio C Michel Abrahim, a partir de um carimbo que exibia o nome, registrado como cirurgião no Conselho Regional de Medicina. No entanto, ele também tinha com ele uma cédula de identidade da Argentina e acabou autuado em flagrante por exercício ilegal da profissão e falsidade ideológica.

A polícia não informou o nome que constava no documento oficial do suspeito.

O suspeito foi detido dentro do HGE (Hospital Geral do Estado), onde teve livre acesso à UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Ele deu esperanças de recuperação a parentes do paciente por meio de um áudio enviado a um familiar, chegando a assegurar que o policial estaria vivo. Ainda não se sabe, no entanto, o objetivo do homem ao abordar a família.

“Fique tranquila porque Yago tá vivo. Ele não tá morto. Essa morte cerebral que foi decretada a ele não é real. Existe a possibilidade de vida, porque o coração dele está batendo perfeitamente sem medicamento. O pulmão dele está respirando sem medicamento. Ele está lutando a favor da vida. Então fique tranquila porque Yago não morreu. Yago está vivo. Se coloque em oração, porque ele está vivo”, relata na mensagem cedida à reportagem por um amigo do policial.

A Polícia Civil informou que uma pessoa da família dele, que é médica, desconfiou de algumas declarações do homem, e acionaram policiais civis que estavam no hospital.

Abordado, o suspeito usava jaleco, carregava um estetoscópio e uma cédula de identidade da Argentina. De acordo com a polícia, ele alega ter se formado na Stanford University, na Califórnia (EUA), mas não apresentou documentos que comprovassem sua habilitação para atuar na profissão.

Ele foi encaminhado para 1ª DT (Delegacia Territorial) dos Barris, que instaurou um inquérito para apurar o caso, incluindo o acesso à unidade de saúde.

Apesar de o quadro de Yago ser irreversível, a equipe médica do HGE prossegue com o protocolo de morte encefálica, que inclui exames clínicos e complementares, como de imagem, por exemplo. “Entretanto, como em todo quadro clínico, é possível haver desdobramentos imprevistos, e a Polícia Civil da Bahia segue aguardando novos posicionamentos da equipe médica e orando pela mudança do quadro”, diz nota da assessoria.

A Sesab (Secretaria de Saúde da Bahia) confirmou que o homem não faz parte do corpo clínico do hospital e disse que as circunstâncias do acesso à unidade e ao paciente serão detalhadas no decorrer da investigação policial.

Acidente

Yago atuava desde outubro do ano passado na 13ª Coorpin (Coordenadoria Regional de Polícia do Interior), no município de Seabra. O investigador era casado e não deixa filhos. Procurada, a esposa do policial não quis se pronunciar.

O capotamento que o vitimou com os demais agentes ocorreu quando transportavam presos para a sede da Polinter (Serviço de Polícia Interestadual), na capital baiana.

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