GOLPE DO EMPREGO: Jovens aceitam vaga em empresa e acabam presos por fraude

Na busca incessante por uma oportunidade de emprego, muitas pessoas acabam sendo enganadas ao aceitar a primeira oportunidade que aparece. O golpe começa desde o anúncio da vaga, ao local de trabalho que passa credibilidade, mas em muitos casos, é apenas para disfarçar as atividades criminosas.

O risco é que ao aceitar a vaga, esse funcionário se torna parte de uma organização criminosa mesmo sem saber. Esse é o caso de um grupo de jovens que foi preso na semana passada no Rio de Janeiro.

O que aconteceu?

Uma jovem de 19 anos foi presa com outras 17 pessoas em uma operação policial no centro do Rio. Lívia Ramos de Souza viu a vaga em um site de emprego, foi até o endereço deixar seu currículo e no mesmo dia, começou a fazer um treinamento. Após quatro horas, ela foi presa em flagrante com os outros funcionários.

Segundo as investigações, a Icon Investimentos fez mais de mil vítimas com falsos consórcios que eles anunciavam por meio de anúncios na internet. Segundo a família, Lívia estava em busca de trabalho, mas acabou caindo em um golpe.

Além de Lívia, que tinha acabado de chegar, Taiane Costa da Silva, 29, trabalhava há 11 dias no estabelecimento e Amanda Oliveira, há 15 dias. De acordo com as famílias, nesse tempo elas não perceberem qualquer tipo de prática errada no local.

Sinais de alerta

De acordo com o especialista em Direito do Trabalho e sócio da Cezario de Souza Advogados, Thiago Cezario, é possível sim identificar que uma empresa é idônea ou não através de alguns comportamentos e buscas na internet de forma correta:

O primeiro passo é verificar se a empresa possui avaliações de consumidores e ex-funcionários no próprio buscador do Google, que fornece a possibilidade de avaliação de uma determinada empresa. Em vários casos são encontradas reclamações tanto de consumidores quanto de ex-funcionários. Essa é uma boa ferramenta para avaliar o conteúdo das reclamações. Se forem constatados conteúdos como: golpistas, fraude, enganação, é melhor ficar bem atento porque a chance de ser uma furada é enorme.”

Thiago Cezario, especialista em Direito do Trabalho e sócio da Cezario de Souza Advogados.

Sites especializados, como o Glassdoor, também permitem que o empregado e candidatos de uma possível vaga saiba sobre outros funcionários de modo anônimo, segundo Cezario. Nele, é possível ver informações como salários, cultura da empresa e mais elementos para saber se a instituição atua de maneira ilícita ou não.

A busca jurídica também é outra ferramenta importante antes de aceitar uma vaga de emprego: “sites como Jusbrasil e também o Reclame Aqui, são interessantes para entender se aquela empresa possui muitos ou poucos processos trabalhistas. Em geral, não é normal empresas de médio e pequeno porte possuírem muitos processos de natureza trabalhista, isso já é um alarme de atenção, não somente para esta empresa estar atuando à margem da lei (supostamente), mas também como é o tratamento diante da CLT”, afirma o especialista à reportagem.

Checagem de CNPJ

Checar o CNPJ também é um passo importante, já que toda instituição séria precisa ter um cadastro ativo e no mesmo endereço onde se encontra a sua atuação. É possível fazer essa consulta no site da receita federal ou em outros inúmeros sites que informam os dados da empresa.

Fabro Steibel, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), alerta que esse tipo de golpe é comum dentro e fora do país, por isso que além de checar se a empresa tem CNPJ, é importante verificar se o endereço cadastrado é o mesmo onde ela atua. Caso contrário, é preciso ficar atento.

Esse golpe é muito comum no mundo todo, inclusive em Dubai. Para fugir deles, é preciso primeiro checar o CNPJ da empresa, que vai te dar um endereço. Procure o local cadastrado e jogue no Google Maps. Se é um terreno baldio ou algo genérico, cuidado. Não significa que é fraude, mas já é um sinal de atenção.” 

Fabro Steibel, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade.

Fazer uma busca por palavras-chave também é importante quando o assunto é a reputação da empresa. “Coloque o nome da empresa na busca do Google e acrescente a pergunta: “é confiável?”. Isso vai te levar para sites de reputação. Se mais gente tiver feito relatos sobre a instituição, vai aparecer ali”.

É golpe, e agora?

A Incon Investimentos atraía as vítimas por meio de falsos anúncios no marketplace do Facebook e quando demonstravam interesse, eles iam até o escritório e eram convencidos a deixar cerca de 10% do valor do veículo. Após fechar negócio, as pessoas ficavam sem dinheiro e sem o suposto bem adquirido.

Temos acompanhado não somente um aumento do processo de virtualização do trabalho, mas também de aumento de virtualização do crime e em contraponto não temos observado ferramentas da segurança pública e das grandes plataformas de rede sociais e plataformas de venda para dificultar o avanço das fraudes virtuais.”

Thiago Cezario.

Além das funcionárias que estavam há menos de 15 dias, entre os presos havia pessoas que estavam há um, dois meses na Icon Investimentos, mas segundo as famílias, durante esse tempo, não perceberam nada de errado no local.

“Em geral, se leva um determinado período até que o funcionário consiga identificar se de fato ocorre alguma atividade ilícita ou não. Cada funcionário acaba se concentrando em determinado setor e com claros níveis hierárquicos. Em geral, tais informações são restritas a diretoria e gerentes, e em alguns poucos casos, de pleno conhecimento de funcionários do operacional, como, por exemplo, em algum momento os funcionários poderiam verificar se algum consorciado foi contemplado”, explica o especialista.

Caso alguém perceba que seu local de trabalho aplica golpes e trabalha de forma ilícita, Thiago alerta que é preciso pedir orientação jurídica para receber a orientação devida para cada tipo de caso, mas a regra é clara: é preciso se desvincular.

Suspeitou da atividade da empresa, corte o seu laço de responsabilidade com aquele lugar ou procure um advogado que lhe oriente para entender qual é a sua situação. Primeiro é preciso entender o nível de risco à própria vida do empregado, e em paralelo buscar a ferramenta legal para interrupção do vínculo de trabalho”.

Pedir para sair de um trabalho de carteira assinada pode ser algo fora de cogitação para a maioria das pessoas que contam com aquela renda mensal. Para isso, Cezario mostra que com uma ajuda jurídica, é possível fazer esse desligamento de forma que o empregado não fique desamparado.

“Existe a chamada “rescisão indireta”, que é uma excelente forma, visto que dentro da justiça do trabalho temos o entendimento de que mesmo a atividade sendo ilícita, o desempenho da função específica pelo empregado não seria capaz de afastar a existência da relação do emprego. Vale lembrar da existência e até da possibilidade de acordo de leniência, e em casos mais simples, se orienta a preservação da sua vida e a saída, recebendo os valores que se tem direito e, também, a possibilidade de denúncia anônima através de ferramentas como o disque denúncia, ouvidoria do Ministério Público entre outros”, explica Cezario à reportagem.

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