
Insulfilm com controle? Película já existe em carros, mas pode virar furada
Um dos maiores problemas da película que escurece vidros automotivos — o famoso “insulfilm” — é a variação da luz: muitas vezes, ela é adequada para dias de sol, mas escura demais para a direção noturna, ou vice-versa.
Vídeos que circulam nas redes sociais, porém, mostram uma solução praticamente mágica para isso, com vidros que ajustam a transparência ao comando de um controle remoto. Surpreendentemente, essa tecnologia existe há vários anos e é o chamado vidro eletrocromático (ou eletrocrômico).
Seu uso mais conhecido é nas janelas de passageiros do Boeing 787, mas os vidros eletrocromáticos até já vêm de fábrica em alguns dos novos carros elétricos da Volkswagen. Eles são recheados com uma camada invisível de gel especial, cujas propriedades químicas são alteradas com a passagem de eletricidade.
Assim, basta controlar a corrente elétrica que percorre a janela para que ela fique mais ou menos escura, em um fenômeno físico-químico conhecido há décadas – mas de execução pouco vantajosa.
Em sites do exterior até é possível encontrar soluções parecidas às dos vídeos virais, mas com preço girando em torno de R$ 5.000 (incluindo impostos e frete). A instalação, entretanto, tende a ser outro gasto considerável, já que é necessário conectar cada vidro eletrocromático a uma fonte de energia.
Esse processo envolve modificar o sistema elétrico do carro, podendo causar a anulação da garantia e danos aos componentes. Outro problema é que os produtos encontrados têm transparência ativa. Isso é: caso falte energia, os vidros ficam opacos e escurecidos, ameaçando a segurança dos ocupantes.
Não à toa, a Volkswagen optou por instalar tais vidros somente no teto solar dos ID.7 e ID.Buzz. Por questões estéticas, a marca alemã também escolheu um gel que, ao invés de escurecer, fica opaco.
Alternativas mais eficientes
Uma boa opção aos vidros que mudam via controle remoto é a película fotocromática, cuja variação de luz ocorre em modo semelhante ao dos óculos de grau que viram de sol em ambientes ensolarados. A reação ocorre através dos raios solares, de modo que não é necessário conectar a película a uma fonte de energia.
De quebra, a película fotocromática é bem mais barata, sendo encontrada na internet por cerca de R$ 315/m2. Entretanto, o consumidor precisa se atentar à legalidade do produto.
O especialista Marco Fabrício Vieira, assessor da presidência da CET-Santos, conselheiro do Cetran-SP e autor de livros na área de gestão de trânsito, explica que as películas fotocromáticas são permitidas no Brasil, mas é necessário que elas atendam às regras definidas pela Lei para esse tipo de acessório.
“Mesmo quando ativadas pela luz solar, as películas fotocromáticas devem respeitar os limites mínimos de transparência exigidos pelo Contran”, diz Vieira.
Segundo o especialista, as normas do Contran foram atualizadas em 2022, especificando a permissão dessas películas. Assim, fixou-se os seguintes limites mínimos de transparência:
75% para o para-brisa (vidros incolores) e 70% (vidros coloridos)
70% para os vidros laterais dianteiros
28% para os vidros laterais traseiros e o vidro traseiro
O anúncio do tipo encontrado pela reportagem afirma que sua transparência varia entre 68 e 25%. Logo, ele estaria em desacordo com a lei e, se constatado isso numa blitz, o condutor seria autuado por irregularidade no sistema de vidros, conforme o art. 230 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro). É infração grave, de R$ 195,23 e 5 pontos na CNH.
Pior ainda é que o veículo será recolhido ao pátio até a regularização da película. Além disso, “caso o vidro original do carro traga algum tratamento contra raios ultravioleta, pode haver interferência no funcionamento da película, que poderia até não funcionar”. É o que explica um manual das lentes Transitions, famosas por sua capacidade de se tornar um óculos de sol automaticamente, através do mesmo processo de reação química.