Intensificação de incursões israelenses na Cisjordânia prejudica o acesso da população a cuidados médicos, alerta Médicos Sem Fronteiras

Em apenas oito dias, 39 pessoas foram mortas e 140 ficaram feridas; recentes incursões são as mais intensas em duas décadas na Cisjordânia

Incursões militares em larga escala lançadas pelas forças israelenses na Cisjordânia, na Palestina, e os repetidos ataques dos militares israelenses a profissionais de saúde, ambulâncias e instalações médicas estão prejudicando gravemente a capacidade das pessoas de ter acesso a cuidados médicos.

As incursões israelenses, que começaram nas primeiras horas de 28 de agosto, também causaram danos em larga escala à infraestrutura rodoviária, a redes de eletricidade e abastecimento de água, prejudicando seriamente a capacidade de Médicos Sem Fronteiras (MSF) de realizar atividades médicas nas cidades de Jenin e Tulkarm.

“Há um acesso médico muito limitado na cidade de Tulkarm e em seus acampamentos de refugiados, e os danos à infraestrutura são enormes”, alerta um integrante da equipe de MSF. “É quase impossível alcançar as pessoas que precisam de cuidados. Essas incursões não são anunciadas. As pessoas ficam totalmente despreparadas. Entre outras questões, mães nos relataram que não têm comida suficiente para seus bebês. Os moradores se sentem presos e isolados.”

As equipes médicas de MSF foram forçadas a suspender suas atividades nas cidades de Tulkarm e Jenin desde o início das recentes incursões.

“Nossa equipe está atualmente com movimentação e capacidade de fornecer apoio direto à população restritos”, relata Caroline Willemen, coordenadora do projeto de MSF. “Só conseguimos fornecer primeiros socorros psicológicos de emergência em Tulkarm e fazer uma doação [de suprimentos médicos, leite para bebês e fraldas] em Jenin. As incursões precisam parar, e o acesso irrestrito à saúde deve restaurado o mais rápido possível.”

Em Hebron, as forças israelenses bloquearam o acesso dentro e fora da região, impedindo que as equipes de MSF administrassem clínicas móveis e apoiassem nossa maternidade localizada fora da cidade. Em Hebron, a clínica de MSF está em funcionamento, mas, segundo relatos, os bloqueios e a sensação de insegurança impedem que os pacientes acessem o local.

Em Jenin e Tulkarm, ambulâncias e profissionais de saúde têm sido repetidamente atacados, comprometendo seriamente as atividades médicas. Após oito dias de incursão, as necessidades estão crescendo, principalmente nos acampamentos. É necessário um aumento na resposta humanitária.

“Veículos israelenses blindados estão estacionados nas entradas do hospital Khalil Suleiman, apoiado por MSF, em Jenin, e a equipe da unidade de saúde está lutando para manter as atividades em meio à escassez de eletricidade e água”, diz Willemen.

Uma paramédica voluntária treinada por MSF relata que foi ferida enquanto prestava primeiros socorros a um paciente em um acampamento em Tulkarm. “Mesmo enquanto usava meu uniforme médico, fui atingida e fiquei ferida acima do olho e com ferimentos de estilhaços”, disse ela.

Segundo outro paramédico treinado por MSF, soldados israelenses entraram em sua casa e o ameaçaram. “As forças israelenses arrombaram minha porta. Eu os informei várias vezes que era voluntário de organizações médicas, mas eles me arrastaram para fora e chutaram minhas costas antes de apontar uma arma para minha cabeça”, relatou ele.

As recentes incursões na Cisjordânia são as mais intensas desde 2002. De 28 de agosto a 5 de setembro, 39 palestinos foram mortos e 140 ficaram feridos, de acordo com o Ministério da Saúde local. Esses ataques fazem parte de um amplo padrão de violência, que se deteriorou acentuadamente desde o início da guerra em Gaza. Mais de 652 palestinos foram mortos na Cisjordânia desde outubro de 2023.

MSF pede que civis, profissionais de saúde, ambulâncias, instalações médicas e hospitais sejam protegidos a todo custo. Como potência ocupante, as autoridades israelenses devem cumprir suas obrigações, de acordo com o direito internacional humanitário, de garantir o acesso desimpedido a cuidados de saúde e outros serviços essenciais na Cisjordânia.

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