Médico diz que prefeito proibiu atendimento a pacientes graves com covid-19 em hospital de Soledade

O médico Hermano Barbosa de Lima, plantonista da UTI móvel do município de Soledade, fez uma denúncia por meio de uma carta aberta à população paraibana. Na carta, Hermano diz que o prefeito da cidade, Geraldo Moura, o proibiu de atender a pacientes graves oriundos de Juazeirinho no melhor ponto de atenção da área de abrangência do município (sala de estabilização do hospital de Soledade).

Questionado pelo médico sobre o porquê, o prefeito afirmou que a cidade vizinha estava com muitos casos de Covid e que minha conduta em acolher paciente dessa cidade estava expondo a cidade que ele administra.

Apesar da coação, o médico disse que não atendeu ao pedido do prefeito e que também não vai atender em uma próxima situação, pois seu dever é realizar seu trabalho da melhor forma possível e salvar vidas.

Veja a carta na íntegra:

CARTA DENÚNCIA

Bom dia a todos! Meu nome é Hermano Barbosa de Lima, sou médico da UTI móvel do município de Soledade, tenho 48anos de idade, sou efetivo no município como médico plantonista, faço plantão semanal de 24h (12h dia na Quinta-feira e 12h dia na Sexta-feira) há 8 anos. Venho mui respeitosamente fazer denúncia a um fato ocorrido na rede de urgência do município de Soledade em relação ao atendimento de um paciente grave oriundo do município de Juazerinho há uma semana atrás, dia 21.05.20 às 18:00. Pasmem! Fui coagido pelo prefeito da cidade de Soledade, Geraldo Moura, a não atender pacientes graves oriundos da cidade de Juazerinho dentro da sala de estabilização do hospital de Soledade e, por me negar a atender tal determinação estou a ser punido com mudança sem justificativa por escrito (oficial) do meu dia de plantão!

Dia 21.05.20 sou chamado in loco na base do SAMU de Soledade pela médica do hospital de Juazerinho a prestar um socorro a um paciente de estado gravíssimo que ela vinha trazendo na viatura do hospital de Juazerinho. Prontamente, acolhi seu pedido solicitando a mesma que deslocasse paciente para sala de estabilização do hospital que funciona vizinho a nossa base e por ter mais espaço físico fica melhor de prestar assistência ao paciente do que dentro de uma viatura. Imediatamente ela seguiu minha recomendação e eu dentro da sala de estabilização a acolhí e iniciei a terapêutica (deixar claro que não incomodei médico do hospital de Soledade a prestar socorro em momento algum e eu mesmo junto com a médica do hospital de Juazerinho é que fizemos toda a assistência, nós 2 éramos suficientes a prestar tal atendimento).

Infelizmente, apesar de toda a assistência prestada ao paciente o mesmo veio a óbito Relatei em seguida caso ao médico do hospital de Soledade e expliquei o que havia acontecido sem em momento algum incomodá-lo em prestar assistência ao paciente ou resolver questões burocráticas como atestado de óbito, etc por entender que a responsabilidade do paciente que morreu era da médica e minha. Orientei então médica do hospital de Juazerinho a preparar atestado de óbito e chamar funerária para recolhimento e translado do corpo até a cidade de Juazerinho. Enfim, tudo resolvido no que se refere as atribuições da rede de urgência.

As 18:50 aproximadamente ao me recolher dentro do meu alojamento médico na base do SAMU em processo de descontaminação (tomando banho) sou surpreendido por batidas fortes na porta solicitando minha presença, informei que estava terminando o banho mas perguntei se se tratava de outra ocorrência e o solicitante me disse que não, que era pra falar sobre a ocorrência!

Abri a porta e me deparei com o prefeito da cidade de Soledade ao lado da minha equipe e da equipe de Juazerinho, extremamente nervoso, me coagindo e me advertindo a não mais prestar atendimento a pacientes graves no melhor ponto de atenção da nossa área de abrangência (sala de estabilização do hospital de Soledade) a pacientes que viessem da cidade de Juazerinho. Disse que se tivesse de atender que atendesse dentro da ambulância do SAMU ou então não atendesse e mandasse médica na ambulância simples em que se encontrava seguir destino pra CG mas que colocar paciente dentro da sala de estabilização do hospital, jamais!

Referi que as 2 opções não eram as mais adequadas pois não poderia privar paciente grave do melhor recurso disponível naquele momento e naquela localidade pois sala de estabilização do hospital era o local mais adequado em se acolher paciente instável e não dentro de outra viatura pois isso a gente só faz quando está na BR recebendo paciente de outro município via acionamento de ocorrência da central do SAMU de CG conosco e, que a 2ª opção também não poderia fazer pois mandar médica seguir caminho sem vaga garantida em CG ao “Léo” em ambulância simples que era a que ela se encontrava sem recursos avançados de UTI seria uma verdadeira omissão de socorro da minha parte pois havia um recuso melhor pra ser oferecido a ela por nós. Que só não fui ao encontro dela na BR socorrê-la pq a Central do SAMU de CG não tinha me acionado pra tal ocorrência pois ainda não tinha encontrado vaga para alocar paciente grave em CG e que por enquanto o mais adequado quando isso acontece era a gente então ir estabilizando paciente dentro do hospital até aparecer e ele melhorar sua instabilidade para suportar o transporte.

Indagado por mim sobre pq ele prefeito de Soledade se incomodou tanto em eu atender um ser humano que estava morrendo, referiu que era pq a cidade vizinha estava com muitos casos de Covid e que minha conduta em acolher paciente dessa cidade estava expondo a cidade que ele administra.

Respondi ao mesmo que se me recussasse em atender tal paciente estaria ferindo os princípios da Universalidade do SUS em que diz que não interessa de onde a pessoa vem, mora ou nasceu, estando passando mal numa localidade onde não mora ou nasceu tem total direito de ser acolhido pelo SUS em uma situação de Urgência além é claro de ser uma verdadeira omissão de socorro!

Enfim, solicito ao ministério público providências para coibir tal coação que sofrí e que tudo que relatei foi dito na presença de 8 testemunhas. Segue abaixo nomes e contatos das testemunhas:

1.Yanka (médica Juazerinho) (69) 98114-4453

2.Tassia (enfermeira Juazerinho)(83) 99112-3669

3.Douglas (motorista Juazerinho ) (83) 99177-4957

4.Fernando José Ouriques Leal (motorista SAMU de Soledade) (83) 99647-8947

5.Moizes Galdino Vieira (motorista SAMU de Soledade) (83) 99905-1793

6.Marizete Vieira (enfermeira do SAMU de Soledade) (83) 99669-4079

7.Alessandra Emanoela Nery (enfermeira do SAMU de Soledade) (83) 99960-7178

8.Hermano Barbosa de Lima (médico de Soledade) (83) 99981-6296.

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