Músico diz ter sofrido racismo após ser chamado de ‘escravo’ em evento de rap

O músico Paulo Sérgio Dias Junior, de 31 anos, relata ter sido vítima de racismo durante um evento de rap em que foi chamado de ‘escravo’ por uma mulher em Santos, no litoral paulista. O caso aconteceu na última semana, porém ele registrou um boletim de ocorrência nesta quarta-feira (11). Em entrevista ele conta que não soube como reagir no momento da ofensa de cunho racista.

“Não falei pra quase ninguém durante dias, achei que esqueceria na real, não achei que impactaria tanto, mas de fato acho que nunca vou esquecer. É bem pesado, ainda mais pela naturalidade, frieza, normalidade que ela usou, inacreditável”, descreve Paulo, conhecido no mundo da música como Jotaerre.

Ele explica que o caso aconteceu na última sexta-feira (6), em um estabelecimento localizado na Rua do Comércio, região central de Santos. Ele apresentava uma batalha de rap no local, quando viu um grupo de três mulheres que estavam na frente do palco desferindo xingamentos, porque não concordavam com a votação do público. Naquele momento, ele conta que levou na brincadeira.

Quando as batalhas acabaram, um amigo mostrou a mulher que o xingou. “Brincando, falei ‘ah foi você então’. Ela disse que tinha sido e eu falei para falar de novo. Aí ela simplesmente disse ‘vai tomar no c* escravo’ e saiu andando”, relembra. Paulo conta que nunca a tinha visto e diz que não teve reação, indo para o lado de fora do estabelecimento com colegas, que também ficaram inconformados.

“Não é possível que uma pessoa em 2021 ainda tenha esse tipo de fala e pensamento, ainda mais falando de uma forma tão escrachada e dentro de um evento de rap, de preto. E ela estava junto com uma menina que é preta, o que só me faz pensar que ela é daquele tipo de pessoas que dizem que não é racista porque tem uma amiga preta”, desabafa.

Ele saiu do local e relata que nem conseguiu comunicar os responsáveis pelo estabelecimento, demorando para entender o que havia acontecido. Inconformado com o que ocorreu, Paulo decidiu postar nas redes sociais um desabafo, que repercutiu na cidade.

O músico explica que fazer a postagem foi a melhor atitude para conscientizar. “As pessoas precisam saber que isso não existe só na televisão, isso tá mais perto do que elas pensam”, conta. Paulo reitera que já vivenciou episódios de racismo velado em entrevistas de emprego, passeios, em abordagem policial, momentos que demorou para entender que havia sido vítima do crime. Entretanto, foi a primeira vez que lidou com falas preconceituosas de maneira direta.

“Eu sempre pensava em mil coisas quando via acontecer com os outros e falava ‘se fosse comigo’, até o dia que foi e eu não soube nem o que fazer”, desabafa.

Após o desabafo na web, que alcançou centena de pessoas, ele registrou um boletim de ocorrência. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o caso foi registrado pela Delegacia Eletrônica e encaminhado ao 1º DP de Santos, área dos fatos.

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