
“Não dê comida a morador de rua”, diz político que alimentou o crime organizado em Cabedelo
Há pouco tempo, o ex-prefeito de Cabedelo, Vitor Hugo, sugeriu em uma entrevista que as pessoas não deveriam “dar comida a moradores de rua”, como se a miséria fosse uma escolha e a empatia, um erro. A frase, além de desumana, agora soa ainda mais cínica à luz dos fatos recentes. Talvez o eleitor também devesse parar de “alimentar” políticos que flertam com o crime, e não apenas com a insensibilidade.
O julgamento no Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) que analisa a cassação do prefeito de Cabedelo, André Coutinho e o ex-prefeito Vitor Hugo, apontado pelo Ministério Público Eleitoral como responsável por nomeações de pessoas ligadas a facções criminosas, é um retrato cruel do estado das coisas. O procurador Renan Paes atribuiu ao ex-prefeito Vitor Hugo a responsabilidade pelas nomeações indicadas pelo crime organizado e foi direto: permitir que facções se misturem à política é o primeiro passo para a “mexicanização” do país, onde o poder paralelo substitui o Estado.
O curioso, é que o processo, baseado em duas operações da Polícia Federal e do Gaeco (En Passant 1 e 2), vem sendo sucessivamente adiado. Desta vez, um pedido de vista do desembargador Aluísio Bezerra. A cada adiamento, a sensação de impunidade se renova. Fica a mensagem de que sempre haverá uma brecha, um “jeitinho” jurídico, para esfriar os casos que envolvem gente grande, com influência.
Enquanto o país debate fome e desigualdade, o ex-prefeito que um dia disse para não alimentar quem tem fome agora é acusado de ter alimentado algo muito mais danoso: o crime organizado dentro da máquina pública. Seria cômico se não fosse trágico.
Só o eleitor tem o poder de romper esse ciclo. O voto, ao contrário da esmola, é permanente: decide quem vai gerir recursos, indicar cargos e interferir nas instituições.
Se a máxima de Vitor Hugo fosse levada a sério, caberia devolvê-la com ironia: não devemos alimentar político que alimenta organização criminosa.

