Pai relata luta da filha, que teve câncer confundido com virose: ”Eu só chorava”

Diagnóstico equivocado de uma simples virose se transformou na descoberta de um sério tumor cerebral; veja sintomas

O que fazer quando o diagnóstico equivocado de uma simples virose se transforma na descoberta de um sério tumor cerebral? Foi exatamente isso que aconteceu na vida de Laura, de apenas sete anos. 

A real situação da menina, que mora em Macapá, capital do Amapá, deixou seus pais bastante preocupados. Tanto que, ao ser informado do estado de saúde da filha, o professor Rafael Gomes entrou em desespero.

“Fiquei uma semana praticamente em estado vegetativo em casa. Eu só chorava, eu não comia, não conseguia mais trabalhar, fui afastado do meu emprego”, relata o pai da criança.

Segundo o educador, naquele momento, ele só pensava que poderia perder a menina, não conseguindo imaginar nada de bom. “Quem está de fora, fala: ‘vamos pensar positivo’, mas é difícil. Para quem está dentro do problema, é muito complicado. Até porque os médicos só falavam pra gente coisas ruins”, completa.

ATENÇÃO AOS SINAIS
A suspeita de que Laura tinha algo além de uma virose começou em novembro de 2018, com os primeiros sintomas físicos, dentre eles, um dos pezinhos da menina, que começou a entortar. O pai da criança conta que ela, inclusive, chegou a ser desenganada na cidade em que moram.

Segundo o médico Gustavo Simiano Jung, especialista em Neurocirurgia do Instituto de Neurologia e Cardiologia de Curitiba (INC), os sintomas relacionados aos tumores cerebrais estão associados à localização e ao tamanho deles.

Jung ressalta ainda que as crianças apresentam a particularidade da fase de desenvolvimento em que se encontram. Durante os primeiros anos de vida, podem ter atraso do desenvolvimento neuropsicomotor e aumento do perímetro craniano (associado ao aumento da pressão intracraniana).

Por isso, ele afirma que o acompanhamento regular com um pediatra é fundamental durante esse período da vida.

“Já crianças maiores e adolescentes estarão suscetíveis ao desenvolvimento de sintomas similares aos dos adultos. Entretanto, nessa fase, não costumam queixar-se com frequência e, por isso, seus relatos devem ser valorizados e investigados para não retardar o diagnóstico”, alerta o especialista.

SINAIS DE ALERTA
O neurocirurgião destaca também que os sintomas relacionados aos tumores cerebrais não são específicos e podem acontecer em outras doenças neurológicas, como nas epilepsias, por exemplo.

Ainda é possível que alguns, como irritabilidade (na criança pequena), vômitos e dor de cabeça sejam confundidos com outras doenças de menor morbidade.

“Sendo assim, é importante considerar os sinais de alarme como início recente, mudança das características (no caso de pacientes com dor de cabeça crônica), refratariedade (mesmo com uso de analgésicos) e recorrência frequente, por exemplo”, alerta.

MAS QUAIS SÃO AS CAUSAS DOS TUMORES CEREBRAIS?
Os tumores cerebrais primários apresentam origens variadas, segundo o especialista. Em um menor número de casos, eles estão associados a síndromes genéticas que podem ter transmissão de pais para filhos e ocasionar o desenvolvimento de tumores múltiplos.

“Entretanto, na imensa maioria das vezes, eles não estarão associados a síndromes genéticas, tendo a alteração que levou ao desenvolvimento do tumor acontecido de forma esporádica, apenas na célula que deu origem à lesão”, ele explica.

A radiação também é um fator potencial para lesão do DNA celular e risco para desenvolvimento de tumores cerebrais. Contudo, com as novas técnicas de entrega de radiação ao cérebro, essa chance é muito menor nos dias atuais.

“Ainda é possível que esses tumores sejam secundários, ou seja, relacionados a neoplasias originadas em outros órgãos, as chamadas metástases cerebrais”, complementa.

EM BUSCA DE AJUDA

Rafael relembra que decidiu buscar por mais informações sobre o problema na internet, e foi lá que o professor encontrou uma reportagem sobre uma moça cuja filha, em situação semelhante, havia sido atendida de forma gratuita pelo projeto do Instituto de Neurologia e Cardiologia de Curitiba, o INC Neuro Kids. Ele, então, decidiu escrever uma carta ao Hospital, pedindo ao menos uma consulta.

A resposta foi imediata e, poucos dias depois, Laura já seria operada no local. “Nunca imaginávamos ir para Curitiba por estar muito longe daqui, não pensava que daria certo. Depois de duas semanas, recebi a ligação de que haviam autorizado a nossa ida, que eles ajudariam a Laura. Toda vez que lembro disso, choro porque somos muito gratos por tudo que eles fizeram por nós”, afirma o educador, emocionado.

TRATAMENTO
Segundo o médico, o exame de escolha para o diagnóstico dos tumores cerebrais é a ressonância magnética, que propiciará imagens adequadas do cérebro, permitindo um resultado bastante exato da localização e sugerindo o tipo histológico do tumor. “A tomografia também é uma opção, porém, com menor sensibilidade para o diagnóstico”, diz.

Em relação ao tratamento da doença, tudo dependerá precisamente do tipo apresentado. Gustavo explica que pacientes portadores de tumores malignos necessitam de cirurgia e, posteriormente, de radioterapia e/ou quimioterapia. Já no caso dos benignos, a maioria precisa apenas da remoção cirúrgica, sem necessidade de terapias adicionais.

“No contexto dos tumores cerebrais malignos, a remoção tumoral completa sempre trará benefícios excepcionais para o controle da doença. Sendo assim, tecnologias como 5-ala (corante utilizado para melhor diferenciação do tecido tumoral em relação ao tecido cerebral normal) e neuronavegação (localização de tumores baseada em exames de imagem), serão de grande valia”, afirma.

Rafael conta que, após o tratamento, a filha vive muito bem. Ele relata que alguns médicos da cidade em que mora ficaram abismados por ver como a criança venceu o problema.

“Laura se recuperou totalmente. Todos os sintomas sumiram. Ela voltou a estudar no ano seguinte, não ficou com nenhuma sequela. Hoje está bem, corre, brinca, nada… Faz tudo e leva uma vida normal, graças à Deus”, celebra.

A cirurgia da menina aconteceu apenas dois meses após a descoberta da doença. Desde então, ela retorna anualmente ao Paraná para fazer acompanhamento médico e realização de exames.

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