Por que beber demais na meia-idade pode ser catastrófico para o organismo

Exagerar na dose depois dos 35 anos pode custar caro ao organismo, alertam especialistas. Um estudo recente da Universidade de Michigan (EUA), publicado em agosto de 2023, mostrou que é justamente a faixa entre os 35 e os 50 que bate o recorde histórico de “binge drinking”, ou episódios de consumo desenfreado de álcool equivalentes a quatro ou mais doses em um curto período de duas horas.

O que aconteceu?
Quem tem entre 35 e 50 anos nunca bebeu tanto. Quase 30% dos pouco mais de 5 mil indivíduos de meia-idade ouvidos pelos estudiosos em 2022 teve pelo menos um episódio de bebedeira desenfreada — o tal binge drinking — nas duas semanas anteriores à entrevista. A pesquisa é realizada anualmente desde 1986 com cerca de 28,5 mil pessoas entre 19 e 60 anos, e a faixa etária dos “trintões” e “quarentões” não tinha números tão altos desde 2008.

Médicos estão preocupados com o aumento no consumo de álcool entre as mulheres de meia-idade. Elas são mais afetadas por doenças do coração e do fígado devido ao excesso de bebida alcoólica do que outras faixas etárias; um levantamento de 2023 mostrou que o número de morte de mulheres relacionado ao abuso de álcool aumentou 7,5% entre 2010 e 2021 no Brasil, com o pico aos 45 anos.

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Profissionais da área de saúde têm reportado que estes adultos são exatamente aqueles que exibem sinais de enfrentar, ao mesmo tempo, as pressões de cuidados com crianças e pais idosos. Eles também enfrentam maiores demandas no trabalho do que os mais jovens ou mais velhos do que eles, segundo o jornal The New York Times. Além disso, a meia-idade nunca teve tão altos índices de solidão também. Estes elementos podem contribuir para o abuso de álcool.

Tendência pode ser catastrófica. A meia-idade é a fase em que décadas de hábitos — positivos ou negativos — têm seu impacto evidenciado no corpo. Ou seja, quem bebe desde os 20 começa a “pagar a conta” com o aparecimento de câncer e outras doenças do fígado e do coração.

Beber mais também é mais perigoso depois dos 35. O metabolismo se torna menos capaz de processar o álcool. Quem desenvolve uma doença crônica nesta fase, mesmo que não anteriormente relacionada ao álcool, pode ter a condição agravada se o consumo de anos antes se mantém ou aumenta. É o caso de diabetes tipo 2 e hipertensão, dois problemas bem comuns. Quando uma pessoa bebe, seu batimento cardíaco pode se acelerar temporariamente. Se já existe uma doença à espreita, o risco de um infarto ou falência cardíaca é maior. Úlceras também podem ser agravadas.

A necessidade de medicações de uso contínuo também começa a aparecer aos 30, 40 e 50. É o caso de remédios para pressão, anticoagulantes, entre outros. A combinação de remédios e álcool pode ser perigosa para o organismo, levando até a hemorragias internas, danos permanentes a órgãos ou complicações letais nos casos mais graves.

Ressaca pior e mais longa
Na meia-idade, há perda natural de massa magra. Ou seja, seu corpo tem menor capacidade de absorver a bebida e você se torna mais suscetível aos efeitos com o álcool circulando por mais tempo na corrente sanguínea. O “porre” e até uma intoxicação alcoólica fatal acontecem mais rápido e se tornam mais prováveis. Portanto, não é impressão sua: você não pode mesmo beber como se tivesse 20 anos.

Com as ressacas mais longas e intensas, e a perda natural de massa magra, a pessoa de meia-idade está mais suscetível a lesões. Beber até cair deixa de ser força de expressão — e quem cai pode se machucar de maneira pior, além de demorar mais para se recuperar. O sono também tem qualidade pior na ressaca depois dos 35.

Beber nesta fase também prejudica sua saúde no futuro. Uma nova pesquisa concluiu que o consumo de álcool é um dos maiores riscos para o desenvolvimento de demência. 61 doenças já foram relacionadas à bebida em estudos recentes, entre elas as 28 com ligação reconhecida pela OMS, como cirrose hepática, AVC e vários cânceres gastrointestinais. Beber menos ou não beber mais pode não reverter todos os danos já existentes, mas pode ajudar na recuperação.

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