Estagiário é demitido por não concordar com ofensas racistas em grupo de Whatsapp – ENTENDA CASO

A Polícia Civil investiga um caso de injúria racial que teria sido cometido pelo dono uma academia de musculação contra um estudante negro de educação física, em Sertãozinho (SP). As mensagens foram postadas em um grupo de conversas por aplicativo do qual alunos e profissionais do estabelecimento fazem parte.

Thales de Oliveira Nogueira era estagiário na academia e registrou um boletim de ocorrência na Delegacia Seccional de Polícia da cidade nesta quarta-feira (3).

A troca de mensagens no grupo de Whatsapp aconteceu no último sábado (30). Um dos alunos da academia perguntou sobre o horário de uma aula e um dos profissionais respondeu com uma imagem do ditador alemão Adolf Hitler. A imagem causou desconforto e alguns dos alunos responderam que: “Nem de brincadeira isso é aceitável”.

Imagem do ditador alemão Adolf Hitler foi postada em grupo de Whatsapp em Sertãozinho (SP) — Foto: Reprodução/EPTV

Imagem do ditador alemão Adolf Hitler foi postada em grupo de Whatsapp em Sertãozinho (SP) — Foto: Reprodução/EPTV

O estudante também se sentiu ofendido e escreveu, antes de sair do grupo: “Quem nunca sofreu racismo jamais vai saber a dor que é”.

“Todo mundo que conhece História sabe o que foi Hitler, então acho inadmissível uma brincadeira desse tipo. Tanto a primeira figurinha, quanto o deboche de o primeiro aluno ter saído por conta da figurinha e continuarem a multiplicar aquilo. Depois até mesmo de eu ter saído do grupo, eles continuarem a achar que aquilo não passasse de uma brincadeira mesmo”, diz Thales.

Após deixar o grupo, o estudante soube que havia sido dispensado da academia pelo proprietário, alegando que o motivo da demissão seria o fato de Thales decidir se afastar dos grupos oficiais.

Estudante se sentiu ofendido com imagens em grupo de Whatsapp em Sertãozinho (SP) — Foto: Reprodução/EPTV

Estudante se sentiu ofendido com imagens em grupo de Whatsapp em Sertãozinho (SP) — Foto: Reprodução/EPTV

“Acredito que foi por eu ter exposto o meu protesto com aquele tipo de figurinha, quanto por alguma indiferença que já vinha se arrastando anteriormente a isso. É bem difícil de tentar explicar, passar algo mais concreto para que entendam [o racismo]. É uma revolta, uma dor no coração imensa. Um turbilhão de emoções que é até difícil de tentar explicar”, diz.

Segundo o proprietário da academia de musculação, Stephano Bachim, a troca de mensagens não tinha a intenção de discriminar algum profissional ou aluno. Ele diz que é contra qualquer ato de preconceito e que Thales foi demitido porque não estava matriculado na universidade.

“Em nenhum momento na troca de mensagens do grupo a intenção era discriminar alguém, inclusive o Thales que era membro da equipe. Nos já tivemos mais de 400 alunos e nenhum momento tivemos ato de racismo, discriminação. Eu liguei lá na faculdade um tempo antes, que a gente teve fiscalização do Conselho Regional de Educação Física e descobri que ele nem matriculado estava”, explica.

A Universidade Paulista (Unip) informou que a matrícula do estudante Thales de Oliveira Nogueira está ativa.

Repúdio

O caso chamou a atenção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Sertãozinho, que emitiu uma nota de repúdio dizendo que a “menção ao terrorismo e genocídio não é brincadeira. Estes atos de apologia, em escalas menores, marcham rumo a consolidação de crime contra a Segurança Nacional”.

O presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB, Lucas Simão Tobias Vieira, disse que trata-se de ato discriminatório e a instituição pretende entrar na Justiça contra a academia.

“Houve uma discriminação clara e vexatória no momento em que o mundo está sensibilizado com a questão do americano George Floyd. A empresa levando para o lado jocoso uma situação séria com o empregado. Juridicamente estamos acionando o Comitê de Igualdade Racial estadual para atuar em conjunto. Nós veremos a possibilidade do ajuizamento de uma ação civil pública por dano moral coletivo e também as medidas penais cabíveis ao caso”, explica Vieira, exemplificando o caso do homem negro que foi morto por policiais nos Estados Unidos.

Pelo crime de “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça”, a pena pode chegar a três anos de prisão.

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