Presidente de sindicato de escolas particulares diz que alunos autistas são ‘problema’
“Quando se faz inclusão com aluno com deficiência física é uma coisa, mas quando se faz com quem tem problema mental é outra. Hoje, o que tem dado mais problema para as escolas são os alunos autistas, especialmente os agressivos”, declarou.
Em outro momento da entrevista, o presidente do sindicato disse que tem conversado com a Secretaria de Educação para que se limite o número de estudantes autistas nas salas de aula.
“Inclusão tem de ser feita com responsabilidade. Se não, acaba atrapalhando e não ajudando a criança, que não tem culpa do jeito que nasceu. A minha escola sempre fez inclusão, mas nossa proposta é que se limite esse número de autistas a dois ou três por sala”.
As declarações de Benjamin Ribeiro da Silva repercutiram mal entre ativistas e instituições que atuam em prol da inclusão. Nesta terça-feira 5, a fundadora do Instituto Lagarta Vira Pupa, Andrea Werner, anunciou que a instituição protocolou uma denúncia no Ministério Público contra o presidente do Sindicato. O instituto atua como rede de apoio para mães, famílias e pessoas com deficiência no País.
Em suas redes sociais, Andrea criticou o teor capacitista das declarações de Ribeiro e citou problemas estruturais das escolas que impedem que a inclusão de estudantes com deficiência seja efetiva, como a falta de formação para os professores, e a contratação de assistentes para as salas de aula.
“Problema é uma professora sem tratamento nenhum para lidar com alunos com deficiência numa sala com 30 alunos sem uma assistente para ajudar ela nisso porque a escola não deu a capacitação pra ela, e não contratou assistente”, criticou.
“Problemas são escolas que ignoram a lei em prol do lucro, isso é um problemão”, acrescentou em referência ao fato de que embora escolas não possam negar matrículas a estudantes com deficiência, muitas ainda o fazem.
“Sabe o que é um problemão também? O capacitismo que é você olhar para uma criança com deficiência e você presumir incompetência, você presumir agressividade”, condenou.
Na segunda-feira 4, o deputado Audic Mota (MDB-CE) protocolou uma moção de repúdio contra as declarações do representante sindical, as quais chamou de ‘absurdas’. “Tal declaração é absurda e contrária às garantias legais e constitucionais asseguradas às pessoas com transtorno do espectro autista, de pleno acesso à educação inclusiva, com apoios e adaptações adequados para o seu desenvolvimento”, destacou.
Após a repercussão negativa, o Sieeesp divulgou uma nota alegando que as declarações do presidente à imprensa foram descaracterizadas. “Não se constrói uma educação inclusiva descontextualizando declarações e pinçando palavras, que só lançam mais desinformação, distorcendo um debate que deveria ser em favor das crianças autistas, as quais, como foi dito, não são culpadas dessa situação. Elas e suas famílias merecem respeito e soluções. A educação é para todos e por pensar e agir assim é que defendemos o direito de qualquer criança ou adolescente, a uma educação regular, de qualidade, universal. Autista ou não”, diz um trecho do comunicado.
Em outra passagem, o sindicato aponta que limitar o número de estudantes com deficiência em sala de aula seria uma questão de bom senso. “Quando se fala em se chegar a um consenso sobre um número pré-definido de crianças com deficiência em sala de aula é porque o bom senso deveria prevalecer, com regras e uma legislação que valorizem a todos os alunos, sem discriminação”.