‘QUERIA CORPO DE ACADEMIA’: Homem de João Pessoa que fez aplicação caseira com gel relata drama

O vendedor Aluizio Henrique da Costa Ferreira, de 39 anos, conta que teve o tórax e as pernas deformadas após fazer uma aplicação caseira de PMMA — o polimetilmetacrilato, substância em forma de gel composta por microesferas de acrílico. Ferreira, de João Pessoa, explica como tudo aconteceu.

‘Assim que aplicou, ficou bonito’

“Tinha 23 anos quando apliquei [o PMMA]. Ia para a academia e via o pessoal com o corpo que eu queria ficar. Só que eu queria rápido. Até que os meus amigos falaram que aplicavam o ‘veneno’. É uma gíria que eles usam para se referir ao PMMA.

Eles tinham o contato para comprar o material e eles mesmos aplicaram em casa, de forma clandestina. Foi aplicado no tórax e nas coxas. Na época, não tinha acesso à informação [sobre os danos do PMMA] como hoje.

Assim que aplicou, ficou bonito, um resultado bacana. O efeito bonito durou de 3 a 4 anos e, depois disso, começou a deformar. Ficou com excesso de pele, como se a pele fosse ‘arriar’.

Após a deformação, também começou a inflamação. O pelo do corpo na região onde apliquei começou a cair. Foi dando dor, inflamação e febre.

Há mais de 10 anos convivo com o inchaço e a inflamação crônica. Tenho de viver à base de remédios. Tem dias que não posso andar, porque a perna fica inchada

‘Não aguento mais’

Já são cerca de 12 anos lidando com isso. Não aguento mais. A febre, o inchaço e a inflamação foram só piorando ao longo do tempo.

Os efeitos atrapalham muito o meu dia a dia. Ando na rua e o povo olha. Isso incomoda. Às vezes querem tocar e machuca a autoestima, que fica baixa mesmo. Quando estou na piscina ou na praia, não tiro a camisa.

A intenção era ter hipertrofia muscular. Um sonho que acabou virando pesadelo, que já dura mais de 10 anos

‘Autoestima vai melhorar’

Com uma cirurgia plástica, minha autoestima vai melhorar.

A operação retira o material e corta o excesso de pele. Fiz uma vaquinha online e já consegui o cirurgião [por doação].

Ainda faltam exames pré-operatórios, passagem, hospedagem e alimentação para o tempo que vou ficar lá, de 20 a 25 dias [ele deverá ser operado em São Paulo].

Como já consegui o cirurgião, estou revertendo [o dinheiro] para cobrir os custos a mais e a medicação.”

‘Danos desastrosos’

O PMMA não é um produto recomendado para uso de forma indiscriminada.

No ano passado, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) emitiu uma nota pública sobre os efeitos da substância.

A entidade afirmou que o produto é extremamente perigoso quando usado fora das recomendações do CFM (Conselho Federal de Medicina).

A substância pode causar complicações precoces e tardias com difícil resolução.

Dentre as complicações, podemos citar: nódulos, massas e processos inflamatórios e infecciosos ocasionando danos estéticos e funcionais desastrosos e irreversíveis
SBCP, em nota

A entidade ainda cita complicações como necroses, cegueiras, embolias e mortes.

Segundo a SBCP, o uso deve ser exclusivo para correções de pequenas deformidades e em pacientes com lipodistrofia (alterações na distribuição de gordura corporal) devido ao HIV.

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