Carinho que faz mal: 5 ‘cuidados’ que na verdade vão estragar o seu carro

Existem pessoas que não economizam dinheiro nem disposição para cuidar do próprio carro.

Se tais cuidados seguirem à risca o plano de manutenções do veículo, provavelmente ele vai durar mais e você vai evitar, lá adiante, problemas graves e caros de consertar.

Contudo, há proprietários que exageram no carinho ou cuidam do jeito errado, Além do desperdício de tempo e dinheiro, há práticas cujo efeito é o oposto do desejado e trazem danos ao amado veículo.

1 – Polimento da pintura tem limite

Polimento revitaliza a pintura, mas excesso remove a camada de verniz, deixando aparência fosca
Polimento revitaliza a pintura, mas excesso remove a camada de verniz, deixando aparência foscaImagem: Alessandro Shinoda/Folhapress

Não há problema algum em lavar o carro nos fins de semana e passar aquela cera caprichada na pintura, desde que o veículo esteja na sombra, para prevenir o aparecimento de manchas.

Também é fundamental usar produtos adequados para esse tipo de cuidado, incluindo esponja e pano de microfibra.

Muitos recorrem ao polimento para devolver o brilho à pintura, especialmente em carros mais antigos e rodados.

O resultado chega a impressionar, a ponto de pessoas fazerem elas mesmas o serviço na garagem de casa, utilizando uma máquina politriz.

Porém, mesmo se você tiver o conhecimento técnico, saiba que polir a pintura não é algo para se fazer com frequência.

Vale destacar que polimento é uma ação retificadora, para uniformizar, recuperar o brilho e remover imperfeições.

Como o procedimento remove parte da camada de verniz, ele tem um limite. Existem carros que não toleram mais que três polimentos.

2 – Colocar aditivo no óleo ou no combustível

Muitas oficinas oferecem aditivos de combustível e até de óleo, mas especialista diz que são dispensáveis
Muitas oficinas oferecem aditivos de combustível e até de óleo, mas especialista diz que são dispensáveisImagem: Getty Images

Esse serviço, muitas vezes ofertado em postos de combustível com a promessa de “limpar” o motor e melhorar o consumo e o desempenho, é desnecessário e em alguns casos pode até causar danos, alerta o engenheiro e consultor automotivo Francisco Satkunas.

“Tanto o combustível quanto o óleo lubrificante já são certificados e vendidos com a formulação necessária para proporcionar o funcionamento ideal do motor”, afirma.

O engenheiro lembra que, se o cliente fizer questão de um produto para prevenir o acúmulo de sujeira e de resíduos nos componentes internos, os postos já oferecem variantes aditivadas de gasolina e etanol.

“Não recomendo colocar aditivo”, orienta.

3 – Limpeza ‘preventiva’ dos bicos injetores

Limpeza dos bicos não tem quilometragem indicada e só é necessária quando há alguma obstrução
Limpeza dos bicos não tem quilometragem indicada e só é necessária quando há alguma obstruçãoImagem: Fabio Braga/Folhapress

“Hoje não está prevista a limpeza de bicos injetores no plano de manutenção, ao menos nos manuais que eu já consultei. Desconheço montadoras que recomendam a prática ao atingir determinada quilometragem”, afirma Erwin Franieck, da SAE Brasil.

Franieck diz que nunca solicitou o serviço e até hoje nenhum dos veículos que já teve necessitou do serviço.

“Essa cultura vem do tempo do tempo do carburador, quando era preciso remover o depósito de resíduos que se formava. Com a melhora na qualidade do combustível, o surgimento da injeção eletrônica e a evolução dessa tecnologia, a limpeza em intervalos regulares já não é obrigatória “, pontua.

Para o especialista, essa intervenção deve ser realizada apenas quando o motor apresenta falha de funcionamento comprovadamente causada por bico entupido.

“Tem de avaliar caso a caso. O sensor de oxigênio, a popular sonda lambda, pode identificar redução na vazão em um ou mais bicos injetores. Porém, o problema pode estar relacionado a outros componentes, como filtro obstruído e falha na bomba de combustível”, explica.

4 – Encher tanque até a boca para evitar pane seca

Encher o tanque até quase transbordar evita problemas causados pela pane seca, mas não é recomendável
Encher o tanque até quase transbordar evita problemas causados pela pane seca, mas não é recomendávelImagem: Pedro A. Tesch/Agência Eleven

O manual do proprietário deixa bem claro: rodar com o tanque constantemente na reserva não é benéfico para o carro, pois, além de trazer risco de pane seca, que pode causar danos mecânicos e rende multa de trânsito. O consumo também sobe nessa situação.

“O tanque quase vazio significa mais espaço para vaporização do combustível. A taxa de perda por evaporação, portanto, sobe”, explica o engenheiro Everton Lopes.

Para evitar o problema, há motoristas que preferem encher o tanque o máximo possível, até quase transbordar – ainda mais em tempos de reajustes sucessivos dos combustíveis. Contudo, a estratégia igualmente não é recomendada e quem sofre com isso é o carro.

“Encher o tanque até o bocal danifica o cânister, que é filtro com carvão ativado responsável por reter os gases provenientes da evaporação do combustível. Esse filtro, geralmente localizado próximo ao tanque, é encharcado, perdendo toda sua eficiência”, alerta Lopes.

De acordo com o engenheiro, os vapores que emanam do tanque são altamente tóxicos e poluentes – daí a importância de se manter o cânister em bom estado.

A orientação do especialista é parar o abastecimento assim que gatilho for desarmado – o que proporciona nível adequado e seguro.

5 – Descarbonização do motor

Prática conhecida promove limpeza química de partes internas, mas é capaz de causar danos graves
Prática conhecida promove limpeza química de partes internas, mas é capaz de causar danos gravesImagem: Getty Images

A limpeza química da parte interna de motores, conhecida como “flush”, é um serviço que promete melhorar o consumo e também a performance.

A técnica utiliza produtos que podem ser adicionados diretamente no tanque ou no cárter, com o objetivo de remover a carbonização naturalmente causada pela queima do combustível e do lubrificante consumido no processo.

Segundo Everton Lopes, a prática pode causar danos no lugar de benefícios – especialmente em veículos bastante rodados e que não costumam ser abastecidos com combustível aditivado.

Segundo ele, o “flush” é capaz de danificar componentes internos, como bronzinas, anéis e camisa do pistão, trazendo risco até de travamento do propulsor – o que exigiria uma retífica.

“Não recomendo, sobretudo se o motor apresentar alta quilometragem e maior consumo de óleo, por conta do desgaste natural dos componentes internos, com formação de borra”, avalia.

Segundo o especialista, o ideal, nesse caso, é desmontar o propulsor e efetuar limpeza mecânica com escova e produto específico, de forma a retirar todos os resíduos antes de montá-lo novamente e colocá-lo para funcionar.

Lopes explica por que a limpeza química pode ser bastante nociva – ainda mais se não for acompanhada em seguida da troca do óleo lubrificante.

“Quando você realiza um procedimento como esse, a carbonização e outros resíduos que se desprendem das válvulas de admissão e escape e dos pistões costumam contaminar o óleo. Especialmente o carvão traz partículas sólidas que, se ingressarem no circuito de lubrificação, causam riscos, trazendo a possibilidade até de o propulsor engripar e parar de funcionar”.

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