
Desemprego vai a 14,4% e analistas veem piora com fim de socorro do governo
A taxa de desemprego no trimestre encerrado em agosto subiu para 14,4%, ante 12,9% em maio.
Aforte queda da atividade econômica provocada pela pandemia da covid-19 continua a fazer estragos no mercado de trabalho no País. A taxa de desemprego no trimestre encerrado em agosto subiu para 14,4%, ante 12,9% em maio. Este é o maior nível já registrado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No trimestre terminado em agosto, 13,8 milhões de pessoas estavam em busca de um emprego no País, 1,1 milhão a mais em relação ao trimestre encerrado em maio. Todas as atividades econômicas seguem demitindo trabalhadores, com exceção da agricultura, que mostrou reação em agosto com contratações para o cultivo de café.
“O desemprego vai manter essa tendência altista até o fim do primeiro semestre de 2021. No início do ano que vem, ainda vamos ter parte dos programas de manutenção do emprego findando, o que deve levar a novas demissões em uma economia que demora a ganhar pujança. Esse crescimento gradativo da atividade, associado a uma ociosidade grande, pressiona o desemprego”, afirmou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Muitas pessoas ainda se sentem desestimuladas a tentar arranjar emprego em função da pandemia, seja pelas implicações sanitárias seja pela crença de que não há vagas disponíveis, o que levou o fenômeno do desalento ao patamar também recorde de 5,851 milhões.
No entanto, a redução do valor mensal do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300 deve provocar uma intensificação do movimento de busca por emprego nos próximos meses, e a taxa de desocupação deve atingir um pico de 15,5% entre dezembro e janeiro, prevê a economista Lisandra Barbero, da XP Investimentos.
“O fim do pagamento vai fazer com que as pessoas voltem a procurar por ocupação em um mercado de trabalho fragilizado, onde a oferta não vai acompanhar a procura”, disse Lisandra.
Já o Banco MUFG Brasil prevê que a taxa de desemprego suba a cerca de 15% no fechamento do terceiro trimestre, mas encerre o ano a 13,5%, considerando as projeções de recuperação ainda que gradual da economia, maior controle da pandemia e contratações temporárias de trabalhadores para as vendas de fim de ano do comércio.
“As perspectivas para o mercado de trabalho seguem preocupantes. A taxa de desocupação vai subir mais, refletindo a incapacidade de a atividade econômica incorporar a força de trabalho. A queda da massa salarial, acompanhada do fim das transferências emergenciais de renda, desenha um futuro difícil para o consumo das famílias e, portanto, para a atividade”, alertou o Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Fator, em relatório distribuído a clientes.
Em atividade
Ainda de acordo com a pesquisa do IBGE, o número de pessoas trabalhando desceu ao piso histórico de 81,7 milhões no trimestre terminado em agosto – 4,270 milhões a menos em apenas um trimestre. Segundo Adriana Beringuy, analista da pesquisa do IBGE, as demissões podem ter relação com a demanda reduzida das famílias por produtos e serviços, o que resulta em demanda menor também por mão de obra no comércio e nos serviços.
A taxa de desemprego poderia ter subido ainda mais em agosto, não fosse o aumento da população inativa, que alcançou o pico de 79,141 milhões, 4,177 milhões a mais do que no trimestre terminado em maio.
“Pode estar havendo um desestímulo a essa procura por trabalho já pelos efeitos econômicos da pandemia, e não pela ameaça de contágio”, apontou Adriana Beringuy. (Colaboraram Cícero Cotrim e Gregory Prudenciano)