Ucrânia paga cerca de R$10 mil ao dia para soldados de diversas nacionalidades, brasileiros mostram rotina

Nos últimos dias, dois ex-militares do Exército brasileiro têm compartilhado vídeos e fotos em seus perfis no Instagram na zona de combate na Ucrânia em apoio ao país invadido pelas tropas russas.

Os combatentes brasileiros afirmaram que integram a Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia, uma tropa formada atualmente por cerca de 20 mil estrangeiros com treinamento militar no combate aos russos, de acordo com o governo ucraniano.

Em um dos primeiros registros nas redes sociais, o paulista André Kirvaitis e o pernambucano Leanderson Paulino, ambos de 27 anos e com residência fixa na Europa, posaram com farda militar, carregando fuzis, em uma área de mata na Ucrânia —o paradeiro é mantido sob sigilo para evitar que as forças russas descubram a localização.

Eles também gravaram imagens do alojamento e do momento em que montam o próprio armamento.

Na manhã de quinta-feira (10), ambos disseram integrar uma unidade especial com outro combatente brasileiro e dois portugueses. Paulino informou ter deixado Londres, na Inglaterra, para se apresentar às forças ucranianas.

Eu fui convidado para fazer parte de uma tropa especial, não estou mais como um militar convencional. No meu pelotão, estão os melhores. Militares de várias nacionalidades, que já operaram no Afeganistão, Iraque e Síria. São guerreiros experientes” diz Leanderson Paulino

Já Kirvaitis foi de carro da Alemanha até a Polônia, onde se alistou na fronteira com a Ucrânia.

A gente veio para ajudar a Ucrânia, porque os outros países não estão fazendo nada. Não tem como deixar o povo à mercê de ser invadido por outro país”, diz André Kirvaitis

Contudo, não responderam se estão sendo remunerados para atuar no conflito. O governo ucraniano criou um site no último sábado (5) para recrutar estrangeiros com formação militar para a Legião Internacional de Defesa do Território, com contato de consulados e embaixadas ucranianas espalhadas pelo mundo, incluindo o Brasil.

Ex-soldados multilíngues estão sendo recrutados em todo o mundo por US$ 2 mil ao dia (o equivalente a R$ 10 mil) para ajudar no resgate de família, aponta reportagem da BBC.

A Embaixada da Ucrânia no Brasil confirmou que mais de cem pessoas se ofereceram para se alistar junto ao exército ucraniano.

Bandeira do Brasil em farda

No braço esquerdo do uniforme de Paulino, é possível ver as bandeiras da Ucrânia e do Brasil.

Logo abaixo, se lê “Caatinga” em sua farda, em referência ao centro de instrução e operações do Exército brasileiro destinado à formação de combatentes com técnicas de sobrevivência em Petrolina, interior pernambucano e cidade de origem do ex-militar do 72º Batalhão de Infantaria Motorizado.

Kirvaitis, colega de farda de Paulino em território ucraniano, exibe em seu uniforme uma bandeira da França, já que nos últimos anos integrou a legião estrangeira francesa, formada por soldados com treinamento avançado e aberta a militares de outros países.

Em nota enviada à reportagem, o Exército do Brasil confirmou a passagem de Paulino como recruta no interior pernambucano entre 1º de março de 2013 e 10 de janeiro de 2014. A entidade também registrou a presença de Kirvaitis no 21º Depósito de Suprimento em São Paulo entre 1º de março de 2013 e 21 de março do ano seguinte.

Apoio a Bolsonaro em 2018

Os dois ex-militares brasileiros na Ucrânia possuem registros nas redes sociais de apoio ao hoje presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2018.

O apoio de Paulino foi mais explícito. Ele tem fotos com camisa com o rosto do então candidato, fazendo o gesto com as mãos em alusão à política armamentista de apoio à liberação do uso de armas. Já Kirvaitis, em seu perfil no Facebook, curtiu página de apoiadores do político.

Bolsonaro tem evitado fazer críticas diretas à Rússia —e hoje tem defendido que o Brasil permaneça neutro diante do conflito. Antes da invasão da Ucrânia pelos russos, o presidente visitou Vladimir Putin e expressou solidariedade à Rússia enquanto o país já realizava exercícios militares na fronteira com a Ucrânia.

Na semana passada, porém, o governo brasileiro votou a favor da resolução da ONU condenando a invasão russa.

Mais de 33 mil seguidores

Depois de deixar o Exército brasileiro, Paulino chegou a trabalhar como agente penal na Bahia. Com nacionalidade italiana, saiu do Brasil rumo à Europa em novembro de 2018. Durante três anos, atuou como bombeiro em Lisboa, Portugal.

Por segurança, Paulino diz não poder revelar a sua localização na Ucrânia, embora compartilhe imagens em zonas de combate no seu perfil no Instagram, onde tem mais de 33 mil seguidores.

“Nem a minha mãe sabe da minha exata localização. Ela só sabe que estou na Ucrânia”, disse. “Estou partindo para uma missão com meu grupamento de elite. Então, não vou poder mais mandar mensagens”, disse.

Em uma foto publicada no último sábado (5), Paulino posa com o uniforme ucraniano e uma legenda em alusão a um dos trechos do hino brasileiro. “Verás que um filho teu não foge à luta”.

Do deslocamento ao alistamento

Em seu perfil no Instagram, Kirvaitis mostra imagens do seu deslocamento até a fronteira com a Polônia há uma semana, quando se apresentou ao Exército ucraniano.

O primeiro registro é da janela de um veículo em movimento em Frankfurt, na Alemanha, no começo da madrugada de 3 de março.

À tarde, filmou o movimento em uma estrada polonesa. No último vídeo publicado da viagem, gravou a abordagem do que parecem ser soldados na fronteira, antes de se alistar. Dois dias depois, exibiu a sua primeira foto já com o uniforme do Exército ucraniano.

O brasileiro faz um apelo a outras pessoas ao redor do mundo para que se mobilizem em apoio ao povo ucraniano. “Tem sempre uma forma de ajudar, com doações, postando alguma coisa na internet ou fazendo manifestação para essa guerra acabar”, diz, embora esteja preparado para lidar com tempos de guerra para ajudar a defender um país distante da sua terra natal.

Mostrar mais
Botão Voltar ao topo