Vereadores de São Paulo voltam a debater CPI contra padre Julio Lancellotti

A Câmara Municipal de São Paulo deve voltar a debater nesta terça (20) se instala ou não uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que mira a atuação do padre Julio Lancellotti e de ONGs que atuam na região conhecida como “cracolândia”.

O que aconteceu

A expectativa entre os vereadores é que o tema seja tratado pelo colégio de líderes. Marcado para 14h, o encontro não tem uma lista pré-definida de pontos a serem discutidos e define o que entra e o que não entra na pauta da Câmara Municipal a cada semana.

“A CPI deve ser instalada”, afirma autor do pedido. No último encontro do colégio de líderes, no dia 6, Rubinho Nunes (União Brasil) disse ter recebido denúncias sobre supostos abusos sexuais cometidos pelo padre. Alguns casos envolveriam ONGs apoiadas pela prefeitura — o que justificaria a investigação pelos vereadores.

Padre afirma que acusações são “inverídicas”. “As acusações estão imbricadas em uma rede de desinformação, que mascara eventuais interesses de setores do poder político e econômico em ceifar aquilo que é o sentido do meu sacerdócio: a luta pelos desamparados e pelo povo de rua”, disse em nota ao UOL no dia 6.

A oposição se prepara para obstruir a pauta caso o assunto surja. No último dia 6, Elaine do Quilombo Periférico (Psol) e Eliseu Gabriel (PSB) questionaram a forma do pedido de CPI (que não cita o padre) e a pertinência da Câmara investigar uma questão que pode não ter ligação com os assuntos da cidade.

O colégio de líderes toma decisões por consenso. Ou seja, os vereadores devem conversar sobre instalar ou não a CPI e chegar a uma decisão conjunta, sem votações. Caso colegiado decida implantar comissão, ainda serão necessários os votos a favor de 28 dos 55 vereadores em uma votação a ser feita em plenário.

Decisão sobre o tema foi adiada

A instalação da CPI chegou a ser discutida no último dia 6. Na ocasião, o presidente da Câmara Milton Leite (União Brasil) propôs que a Casa aguardasse o depoimento de uma suposta vítima à arquidiocese. “É uma acusação muito grave, que exige muita cautela e prudência”, disse ele à época.

Vereadores não acreditavam em instalação da comissão. Até o começo da tarde do dia 5, membros da Câmara não acreditavam que a CPI fosse ser instalada. Entretanto, a divulgação de uma nota pela Arquidiocese de São Paulo sobre investigações ligadas ao padre deixou o cenário incerto.

A arquidiocese informou que segue “em busca da verdade” a respeito de denúncia recente contra Lancellotti. Segundo a Folha de S. Paulo, um suposto assédio sexual praticado contra um ex-coroinha em 1987 teria impulsionado a investigação.

Em janeiro, Ricardo Nunes (MDB) disse que falta de apoio na Câmara e outros fatores enterrariam a comissão. Nos bastidores, comenta-se que uma CPI liderada pela situação colocaria o prefeito na posição de “perseguidor” de quem acolhe os mais pobres. É um papel desconfortável para Nunes em ano eleitoral.

Câmara tem 45 pedidos de CPIs na fila. Atualmente, há três comissões em curso: uma relativa à Enel, outra à violência na cidade e uma terceira ligada aos roubos e furtos de fios e cabos.

Relembre o caso

ONGs que atuam na “cracolândia” são alvo do pedido de CPI. Protocolado em dezembro por Rubinho Nunes, o documento pede que se inicie uma investigação sobre a oferta de “alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento de dependentes químicos” por organizações nessa região.

Após protocolar o pedido, o vereador afirmou que vai mirar também no padre Julio. Isso não está especificado no texto do requerimento. Após a informação vir à tona, alguns vereadores decidiram retirar o apoio à proposta.

Conservadores usam vídeo para acusar padre de pedofilia. No começo de fevereiro, vieram a público imagens nas quais um homem identificado como Lancellotti (o que não foi confirmado em nenhum momento) troca mensagens pelo celular com um suposto jovem (que não aparece na gravação) e se masturba em uma chamada de vídeo. O caso foi divulgado pela revista Oeste, publicação de viés conservador.

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