ALTA DOS VALORES: Auxílio caminhoneiro mal dá para pagar um tanque

O novo auxílio caminhoneiro, criado pelo governo federal, prevê o pagamento de R$ 1 mil por mês aos profissionais da área, valor que será dobrado ao longo deste mês para cumprir a previsão de término do benefício até dezembro. Chamado de “BEm caminhoneiro”, o benefício emergencial aos trabalhadores autônomos de carga não precisa ser usado apenas para comprar diesel. Mas, se for usado para isso, terá que resolver as questões do combustível caro.

O executivo da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Marlon Maues, esclarece: “Se você considerar um caminhão que tem 14 anos, a idade média dos veículos dos trabalhadores autônomos, ele tem um tanque médio de 400 litros. Considerando o consumo médio de 1,5 km/l, ele vai gastar quase R$ 3 mil. O auxílio é quase insignificante para a questão técnica”, lamenta Marlon, que acrescenta que outros componentes também são caros, exemplo dos pneus, que custam cerca de R$ 2 mil – justamente o valor dobrado do auxílio de agosto.

Ao levar em consideração o preço médio do diesel apurado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), abastecer um tanque (ou tanques) deste volume custa R$ 2.968.

Há uma questão: a maioria dos caminhões pertencentes aos autônomos é antiga, o que os diferencia dos modelos mais novos, que são capazes de rodar um pouco mais de quilômetros por litro, mas nada que ultrapasse muito cerca de 2 km/l.

“O auxílio veio como um afago, mas o que precisamos é de mudanças estruturais para equilibrar novamente essa relação de contratante e contratado, algo que seja perceptível no dia a dia da estrada, e não de diversos programas criados para “marketizar” uma ação específica junto ao público caminhoneiro”, pontua Marlon.

Ainda há um outro problema: segundo pesquisa da CNTA publicada em abril, cerca de 19% dos veículos autônomos não estão quitados, o que impacta ainda mais na renda média. De acordo ainda com o estudo, 37,7% dos autônomos ganham entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, tendo uma média de trabalho de 23 dias por mês e 13 horas por dia. A despeito do auxílio, não é o suficiente para se ter um pouco de folga.

Vale levar em consideração o perfil do caminhão. Do total de mil pessoas pesquisadas, 43% têm veículos pesados, justamente os modelos que consomem mais e têm tanques maiores.

Popular após desempenhar certa liderança na greve de caminhoneiros de 2018, o presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores) Wallace Jardim, conhecido como Chorão, também fez críticas.

“Não dá para abastecer. Se você dividir R$ 1 mil pelo preço do diesel (NR: R$ 7,42), dá uns 134 litros, então eu vou rodar uns 270 km com o combustível abastecido. Coloquei um tanque de 600 litros e faço cerca de 2 km/l”, afirma Chorão, que também ressalta o caráter eleitoreiro da medida.

Se levarmos em consideração o tamanho expandido do tanque deste veículo, o valor pedido para abastecimento total é de R$ 4.452. Ou seja, seriam necessários mais de quatro meses de auxílio – com exceção do valor dobrado de agosto – para completar o reservatório.

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