Policial agredida por instrutor a pauladas revela motivação: ‘Ele achou que tínhamos comido pizza’

A policial civil do Maranhão de 53 anos que denunciou ter sido agredida a pauladas pelo instrutor de um curso voltado a agentes femininas, realizado no Ceará, relatou ao Fantástico como foram as agressões. Ela publicou em suas redes sociais uma foto que mostra hematomas em suas nádegas.

O que aconteceu

A policial contou que tudo começou devido a um pedaço de pizza. De acordo com ela, cerca de dez mulheres foram agredidas pelo PM Rafael Ferreira Martins. “Os instrutores foram comer uma pizza e eles dividiram algumas alunas para fazer a limpeza. De repente, ouço aquele barulho e ele falando: ‘Roubaram minha pizza! Roubaram minha pizza! Cadê minha pizza?’ Foi muito rápido, ele começou a atingir as meninas com paulada.”

A agente relembrou a sequência de agressões. “Ele falou: ‘Posição de flexão’. E já começou a bater. Teve essa coisa também de humilhação, para sentir a pior das mulheres”, disse ela, acrescentando que outras três mulheres tiveram que ficar nessa posição.

Ela falou que chegou a gritar depois de ter apanhado. “Foi com muito mais violência, com muito mais ódio. Eu não aguentei e, dessa vez, eu gritei. Dei um grito muito alto.”

Ele também a agrediu verbalmente por conta de sua origem e idade. “Ele falava: ‘Essa velha que vem do Maranhão. Essa velha’. E ainda queria que eu dissesse: ‘Sim, senhor’.”

A policial afirma que tudo foi presenciado pela esposa do PM e monitora do curso, a sargento Laurice Maia — que nada fez para conter as agressões. “Eu sempre olhava para ela, como se estivesse pedindo uma explicação. Quando eu fui falar com ela, eu vi que ela estava de acordo com aquilo tudo.”

Senti na hora aquela dor imensa, mas aí depois não é o que fica. É a dor interna, é o psicológico que fica. Eu acho o tempo todo que estou no curso.

O advogado Daniel Maia, que representa o PM e a sargento, disse que o “caso é fruto de uma mentira, uma mentira deslavada” e que as marcas das agressões são hematomas por cair em cima de cocos.

O exame de corpo de delito não cita queda, segundo a reportagem, e afirma que os hematomas foram causados por instrumento de ação contundente. A policial também nega ter caído.

O que diz a Secretaria da Segurança Pública do Ceará

Um inquérito para investigar o caso foi foi instaurado na Delegacia de Defesa da Mulher, onde foram realizadas oitivas, conforme informou a SSPDS-CE. “Desde que tomou conhecimento sobre uma policial civil do Maranhão lesionada durante uma instrução no curso tático promovido pela Aesp, [a pasta] colocou todo o aparato das instituições disponíveis e trata o caso com seriedade”, diz trecho de nota enviada.

O policial suspeito de cometer as agressões, que atuava como instrutor do CTAP, foi “imediatamente afastado” das aulas, afirmou o órgão.

A secretaria diz ainda que a policial feminina recebeu o apoio de uma equipe que a acompanhou até o Maranhão.

A pasta reforça ainda que a Controladoria Geral de Disciplina (CGD) dos Órgãos de Segurança Pública, secretaria autônoma e isenta, que tem a função de investigar e garantir o devido processo legal e proporcionar a segurança jurídica na avaliação da conduta e correição preventiva de servidores, determinou imediata instauração de procedimento disciplinar para devida apuração na seara administrativa disciplinar.”

Nota da SSPDS-CE

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